O líder da Iniciativa Liberal (IL) acusou esta sexta-feira o Presidente da República de "invasão permanente" no espaço da negociação do Orçamento do Estado, considerando que as suas "intervenções praticamente diárias" são indesejáveis e recomendando-lhe recato. Na mesma ocasião, voltou a criticar a aproximação do Governo ao PS para o Orçamento do Estado, chamando-lhe uma “coprodução Medina-Sarmento".

Em declarações aos jornalistas à entrada do Centro de Congressos do Estoril, onde decorre até domingo o congresso da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE), Rui Rocha foi questionado sobre como é que interpreta a decisão do Presidente da República de ter adiado viagens à Estónia e à Polónia que tinha previstas para a próxima semana, tendo em conta as negociações orçamentais em curso.

Na resposta, o líder da IL defendeu que Marcelo Rebelo de Sousa o país "ganhariam com algum distanciamento" do Presidente da República, frisando que "tem feito intervenções praticamente diárias, às vezes mais do que uma vez por dia".

"E se há coisas que me parecem naturais que aconteçam - como por exemplo o Conselho de Estado, onde é natural que o senhor Presidente promova a discussão sobre o momento do país - já outras intervenções tão permanentes, tão insistentes, creio que traduzem e dão aos portugueses um sinal de intranquilidade que eu considero indesejável", afirmou.

Para Rui Rocha, "é bom que os partidos possam ter o seu espaço, defender as suas ideias, negociar a apresentar as suas propostas". "Esta invasão permanente, por parte do senhor Presidente da República, do espaço que é o espaço da negociação própria da democracia e do espaço dos partidos, parece-me indesejável do ponto de vista da normalidade do processo democrático", criticou.

Questionado se recomendaria recato a Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rocha disse que sim, salientando que "todas estas questões devem ser feitas com alguma discrição".

"Não creio que o país ganhe muito com toda esta discussão na praça pública que tem havido. Normalmente, quando as discussões e as pressões são feitas na praça pública, isso significa que há poucas probabilidades de serem eficazes", salientou. Rui Rocha disse assim que o Presidente da República “preservasse a sua capacidade de intervenção” "Isso faz com que esse recato fosse, de facto, desejável", disse.

O líder liberal avisou ainda que não tenciona viabilizar um Orçamento do Estado baseado numa "coprodução Medina-Sarmento", apesar de ressalvar que tenciona ver o conteúdo do documento antes de definir um sentido de voto. Rui Rocha recorreu ao facto de, esta sexta-feira, a reunião do Conselho de Ministros, dedicado à mobilidade, ter incluído uma viagem de comboio, para salientar que o "comboio do executivo está a encaminhar-se para o lugar errado".

"É uma escolha legítima da Aliança Democrática (AD), mas esta aproximação ao PS implica afastar-se dos interesses do país. É um comboio que está cada vez mais afastado das necessidades do país, à medida que se aproxima dos interesses do PS", afirmou Rui Rocha, salientando que o Orçamento parece "estar morto" do ponto de vista dos instrumentos necessários ao crescimento económico do país.

"Esta aproximação mata qualquer possibilidade de irmos no sentido certo, trazermos uma economia pujante, uma sociedade afirmativa e, portanto, é mais do mesmo do que nós já tivemos nos últimos anos", criticou.

Questionado assim se, caso as propostas apresentadas pelo Governo ao PS se mantenham na proposta orçamental, a IL tenciona votar contra o Orçamento, Rui Rocha respondeu: "Eu creio que este é um Orçamento, chamar-lhe-ia Medina-Sarmento".

"É uma coprodução entre o PS e a AD e nós, da mesma maneira que não viabilizaríamos orçamentos apresentados por Fernando Medina, não viabilizamos também orçamentos subscritos por Luís Montenegro e Joaquim Miranda Sarmento, mas que, no seu espírito, são orçamentos que Fernando Medina podia perfeitamente apresentar", disse, acrescentando que o antigo ministro das Finanças do PS disse esta quinta-feira que a proposta do Governo é agora "perfeitamente aceitável do ponto de vista do PS".

Rui Rocha ressalvou contudo que a IL pretende "aguardar pelo texto propriamente dito, pelo conteúdo propriamente dito". "Mas é evidente que, se não votámos a favor de documentos do PS, também não votaremos a favor de documentos que são muito próximos daquilo que o PS apresentaria", afirmou.