O Presidente ucraniano intensificou esta sexta-feira as suas críticas ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, que tem sido atacado pelos aliados da Ucrânia por ter levado a sua mensagem de paz à cimeira dos BRICS, na Rússia, e por ter conversado com Vladimir Putin.

Segundo o Politico e a AFP, vários oficiais ucranianos avançaram que Volodymyr Zelensky não gostou do aperto de mão entre Guterres e o Presidente russo, e a imagem de ambos a cumprimentarem-se na cimeira em Kazan motivou essa deterioração da relação entre Zelensky e o português.

“Ele deu-lhe [a Putin] um aperto de mão. Ele sorriu. Foi-lhe pedido que promovesse a cimeira dos BRICS ainda mais. Ele foi usado por eles, e pareceu feliz ao fazê-lo” comentou um desses oficiais ucranianos, em declarações ao site Politico.

Na quinta-feira, no seu discurso noturno habitual, Zelensky apontou que é “crucial” que o mundo se recorde da Carta dos Direitos Humanos e que não se deixe “aliciar” pelo “encanto” da cimeira dos BRICS. Esta sexta-feira, o porta-voz da ONU esclareceu que, durante a reunião com Putin, o português “repetiu a sua posição de que a invasão russa da Ucrânia violou a Carta da ONU e o direito internacional”.

A cimeira na cidade de Kazan juntou algumas das principais economias do mundo não-ocidental e não inseridas no G7, incluindo a Rússia, a China, a Índia, o Brasil e a África do Sul. Além de representarem quase metade (45%) da população mundial, as economias dos países que participaram na cimeira já superam as economias dos países do G7.

Guterres marcou presença na cimeira para defender a paz em várias regiões no globo, especialmente no Médio Oriente, na Ucrânia e no Sudão do Sul. Esta não é a primeira vez que o líder das Nações Unidas se desloca à Rússia desde o início da invasão na Ucrânia, e o português já visitou muitas vezes Kiev, especialmente durante as negociações lideradas pela ONU aquando do acordo de cereais do Mar Negro.

Apesar das tentativas do secretário-geral da ONU em contactar todas as partes envolvidas nos diferentes conflitos, o Governo ucraniano condenou o diálogo com Putin, que é acusado pelo Tribunal Penal Internacional por alegados crimes de guerra pela invasão na Ucrânia. Através da rede social X (antigo Twitter), o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano disse que Guterres tomou “a escolha errada que não avança a causa da paz” e que “só danifica a reputação da ONU”.

Também a viúva do ativista russo Alexei Navalny lamentou a atitude diplomática de António Guterres. “No terceiro ano da guerra, o secretário-geral da ONU está a apertar a mão a um homicida”, escreveu Yulia Navalnaya na rede social X.

Ucrânia confiante em apoio dos EUA, ganhe Trump ou Harris

O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano confia no apoio dos Estados Unidos da América (EUA), independentemente do resultado das eleições presidenciais norte-americanas de novembro, salientando que a paz na Ucrânia é do interesse de todos os países.

Em entrevista à agência Lusa em Luanda, e quando questionado sobre o que poderá mudar para a Ucrânia, caso os norte-americanos escolham Donald Trump ou Kamala Harris para suceder a Joe Biden, Andrii Sybiha afirmou estar confiante de que o apoio dos EUA vai manter-se, independentemente de quem seja o próximo inquilino da Casa Branca.

“Quando o Presidente Zelensky visitou os EUA recentemente, encontrou-se com ambos os candidatos à presidência, a quem apresentou o seu plano de vitória. Teve uma reunião muito produtiva com ambos os candidatos e reuniões importantes com os representantes de ambos os partidos, republicanos e democratas. Isso é crucial”, salientou o responsável ucraniano, frisando que “alcançar uma paz duradoura para a Ucrânia é também um interesse estratégico” para os EUA e o mundo democrático.

“Nós estamos a proteger os nossos valores comuns, estamos a proteger a democracia. A guerra na Ucrânia não é apenas sobre a Ucrânia. É sobre a restauração da ordem mundial baseada no direito internacional e nos princípios da Carta da ONU”, reforçou.

Andrii Sybiha, que incluiu Angola no seu périplo por África e pelo Médio Oriente (sendo esta também a primeira visita de um chefe da diplomacia ucraniana ao país), procurando consolidar os apoios à Ucrânia, assinalou que o país lusófono assume a União Africana no próximo ano e que para a Ucrânia é importante “entender a visão” do bloco sobre o conflito e como pode cooperar com a União Africana, sob a presidência angolana.

O governante realçou que “a propaganda da Rússia” no continente africano “é muito forte” e não pode ser subestimada.

“Eles usam de forma abusiva a reputação positiva da União Soviética, por isso claro que precisamos de mais apoio dos países africanos para nos aproximarmos da paz”, prosseguiu o chefe da diplomacia ucraniana, acrescentando que as consequências das agressões da Rússia se fazem sentir também em África.

Sobre a futura deslocação do Presidente norte-americano, Joe Biden, a Angola, agendada para dezembro e já depois das eleições presidenciais norte-americanas de 5 de novembro, considerou que é o reconhecimento da transformação e da reforma do país e “um sinal do futuro de projetos muito importantes que vão ser desenvolvidos”, tal como o Corredor do Lobito.

Outras notícias:

⇒ As primeiras unidades de soldados norte-coreanos já chegaram à zona de combates na região russa de Kursk, onde as tropas ucranianas controlam centenas de quilómetros quadrados, afirmaram as autoridades militares da Ucrânia. A afirmação surge no mesmo dia em que os deputados russos votaram, por unanimidade, a ratificação do “tratado de parceria estratégica abrangente” com a Coreia do Norte, que prevê a assistência mútua em caso de agressão armada por parte de um terceiro país;

⇒ A presidente da Comissão Europeia classificou esta sexta-feira como “excelente” o programa de reformas apresentado pela Sérvia e disse que Belgrado vai receber este ano 110 milhões de euros em pré-financiamento. A Sérvia, candidata à adesão à União Europeia (UE), apresentou um plano de reformas para avançar no processo, depois de mostrar uma aproximação à Rússia, nomeadamente ao recusar aplicar sanções a Moscovo, na sequência da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022;

⇒ A Coreia do Norte garantiu que qualquer envio das suas tropas para a Rússia respeitará o direito internacional, segundo a agência oficial KCNA, sem confirmar ou negar que já tinha enviado soldados. “Se aquilo de que a comunicação social internacional está a dizer acontecer, penso que será feito de acordo com as regras do direito internacional”, disse Kim Jong Gyu, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, responsável pelas relações com a Rússia, citado pela KCNA;

⇒ Por outro lado, o governo alemão considerou que um apoio da Coreia do Norte à Rússia através de equipamento militar ou da “possível utilização de pessoal” seria uma “clara escalada” na guerra na Ucrânia. Pyongyang “não deve contribuir” para o conflito e deve “abster-se de fazer qualquer coisa nesse sentido”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, Kathrin Deschauer, numa conferência de imprensa habitual do governo em Berlim;

⇒ Os ministros dos Negócios Estrangeiros de Angola e Ucrânia abordaram esta sexta-feira o reforço dos laços político diplomáticos e a intensificação da cooperação em setores como a agricultura e a formação de quadros. Segundo o comunicado do Ministério das Relações Exteriores, “a Ucrânia vê Angola como um ator fundamental no continente africano e pretende reforçar os laços político-diplomáticos, contando com o apoio de todos os países que, como Angola, são defensores da paz e da estabilidade internacionais”.