Sendo o zerozero um órgão de comunicação social com uma forte base de dados a si associada, é facilmente compreensível que os dias de sorteios de competições europeias são vividos com grande emoção na nossa redação, caro leitor.

Assim que percebemos que o Benfica iria ter de viajar até à Sérvia para defrontar o Estrela Vermelha, mergulhámos no nosso registo estatístico e fomos à procura de um ponto de ligação entre os dois clubes. Dois ou três cliques e... voilá: dois jogos no histórico de confrontos entre portugueses e sérvios, no caso na primeira ronda da edição de 1984/85 da Liga dos Campeões.

Daí até conversarmos com José Luís, antigo jogador do Benfica que esteve presente na referida eliminatória, foi um instante.

As sempre difíceis equipas jugoslavas...

Assumindo que foi invadido por um «sentimento de nostalgia» aquando do sorteio, o antigo internacional português mostrou ter bem presentes as memórias da partida de há 40 anos, que terminou com um triunfo do Estrela Vermelha por 3-2.

«Por norma, as equipas da antiga Jugoslávia eram muito fortes. No entanto, nessa altura, o Estrela Vermelha era o clube mais forte do país. Joguei em muitos estádios, mas o ambiente em Belgrado era realmente infernal e foi um jogo terrível para nós na segunda parte. Fizemos um bom jogo nos primeiros 45 minutos, controlámos o jogo e fizemos dois golos, sendo que ainda podíamos ter feito mais um. Na segunda parte as coisas foram terríveis, perdemos o foco em momentos fundamentais da partida. Houve um penálti cometido por nós e, logo a seguir, cometemos outro. A equipa tremeu e foi aí que eles conseguiram a reviravolta», começou por recordar.

De forma natural, as especificidades do Estádio Rajko Mitic também foram tema de conversa: «O túnel tinha para aí 80 metros e o estádio é aberto, algo raro nos estádios atuais. Lembro-me que o Filipovic, que tinha passado pelo Estrela Vermelha, tinha saído do Benfica para o Boavista no fim da época anterior. Quando foi o sorteio lembro-me perfeitamente dele entrar em contacto connosco e ter dito que, muito provavelmente, o Estrela Vermelha foi a pior equipa que nos podia ter calhado

Tudo mudou em Portugal

O jogo em Lisboa podia ter sido a primeira parte de uma história triste, mas a verdade é que o Benfica conseguiu dar a volta à eliminatória no Estádio da Luz.

«Para além de serem jogadores tecnicamente muito bons, também tinham um espírito de luta muito grande e nunca desistiam. Lembro-me que eles ofereceram muita resistência, mas felizmente conseguimos vencer 2-0 e virar a eliminatória», sublinhou José Luís.

Ao contrário do que havia acontecido em Belgrado, o médio não foi titular na partida em casa. Ainda assim, os golos das águias só surgiram depois de José Luís entrar em campo. Perante este cenário, a pergunta teve de ser feita ao nosso entrevistado: a entrada de José Luís foi o segredo do triunfo da equipa então comandada por Pál Csernai?

«[Risos] Na altura o Benfica tinha uma excelente equipa e tanto quem começava de início como quem entrava depois tinha uma vontade muito grande de ajudar a equipa. Tive momentos em que consegui fazê-lo, mas a verdade é que o Carlos Manuel é que teve uma noite em grande e conseguiu fazer dois golos. Havia um espírito e uma união muito grandes, daí as equipas do Benfica terem expressão nacional e internacional nessa altura.»

Segredo? Entrar a todo o gás!

Apontando baterias ao presente, quisemos perceber como é que José Luís perspetiva o jogo desta quinta-feira. O ex-jogador foi perentório ao descrever a forma como a equipa encarnada deve encarar a partida.

«Pela experiência que adquiri ao longo dos anos que joguei, penso que é mesmo muito importante o Benfica entrar bem no jogo. Os jogadores não podem deixar os minutos passarem e só começarem a correr quando sofrem um golo. Tem de ser um Benfica focado de início a fim e com grande espírito de sacrifício. A qualidade técnica existe e penso que o Benfica é superior ao Estrela Vermelha nesse capítulo, mas tem de haver essa entreajuda», frisou, mostrando, por fim, confiança em Bruno Lage:

«Sempre se disse que o importante não é como as coisas começam, mas sim como acabam e isso viu-se na primeira temporada do Lage. Ele saiu, mas os treinadores bons também saem e entram. Penso que ele adquiriu experiência desde que saiu do Benfica e que foi uma boa escolha do Rui Costa. Penso que o Bruno Lage vai fazer um bom trabalho e que vai conseguir dar a volta a este momento menos positivo.»