A Dream Team de 1992 foi a melhor equipa alguma vez reunida. Uma afirmação incontestável para várias gerações. A NBA chegou ao basquetebol de seleções com as suas maiores estrelas e, desde então, parece que todas as comparações ficaram aquém. Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird encabeçaram a equipa de sonho que em Barcelona bateu tudo e todos a caminho do ouro mais previsível desses Jogos Olímpicos.

No domingo, os EUA venceram a Sérvia na estreia em Paris 2024. Mais do que uma vitória foi uma afirmação de uma equipa que muitos dizem ser a que mais se aproxima de 1992 ainda que, entre ambas, haja um mundo de diferença.

Desde logo, a Sérvia. Uma das maiores potências mundiais da modalidade, a Jugoslávia, foi impedida de jogar em Barcelona, como sanção à guerra nos Balcãs. Uma guerra, aliás, que mudou o panorama europeu da modalidade. A Jugoslávia de antes, pré-guerra, portanto, seria a real adversária dos EUA da altura. Campeã mundial, campeã europeia, dissolvida por uma guerra dilacerante que afastou irmãos, incluindo Vlade Divac (sérvio) e Drazen Petrovic (croata), as duas maiores estrelas do basquetebol dos Balcãs a par de Toni Kukoc.

As mudanças não se ficaram apenas e só pela ausência da Jugoslávia e presença da Croácia em 1992. A partir de Barcelona, com a inclusão dos jogadores da NBA nas provas da FIBA, quase tudo mudou.

UMA EQUIPA ARRASADORA

A final entre EUA e Croácia, em 1992, terminou com a medalha de ouro para os norte-americanos após vitória por 85-117. O número final significou que a seleção de Jordan, Bird e Magic marcou mais de cem pontos em todos os jogos. A média, já agora, foi de 117,3 por partida.

Os EUA, que contavam com um jogador que ainda não tinha chegado à NBA – Christan Laettner foi o representante universitário – nunca pediram…um desconto de tempo. A margem média de vitória foram uns incríveis 44 pontos.

Ninguém tem dúvidas do talento e empenho da equipa atual dos EUA. Ao fim e ao cabo, estamos a falar de uma geração que vai a debate com a de 1992. LeBron James, Stephen Curry, Kevin Durant são parte de um «roster» de 12 estrelas americanas.

A grande diferença está, portanto, nos adversários.

A GLOBALIZAÇÃO DO JOGO

Para se ter uma ideia, em 1992, a Dream Team defrontou nove jogadores com experiência de NBA, entre basquetebolistas que jogavam na liga na altura dos Jogos Olímpicos de Barcelona e outros que já lá tinham passado (Sarunas Marciulonis – Lituânia; Drazen Petrovic e Stojko Vrankovic – Croácia, Detlef Schrempf e Uwe Blab – Alemanha; Rolando Ferreira e João ‘Pipoka’ Vianna – Brasil; Ramon Rivas e Jose Ortiz – Porto Rico).

Já agora, para além destes, três tinham sido selecionados em draft, mas nunca jogaram na NBA (Hansi Gnad evGunther Behnke – Alemanha; Oscar Schmidt – Brasil) e outros quatro viriam a entrar na liga depois desses Jogos Olímpicos: Toni Kukoc, Dino Radja e Zan Tabak – Croácia; Arvydas Sabonis – Lituânia).

Agora, a diferença é esta: há 51 jogadores da atual NBA nos Jogos Olímpicos, mais um free agente, e não há uma única equipa em 12 que não tenha pelo menos um representante da liga norte-americana na seleção.Se a estes 51 se juntarem os que já passaram pela NBA, esse número aumenta para 81. Michael Jordan chegou a Barcelona como a maior estrela desportiva mundial, acompanhado por uma galáxia que não teve paralelo no universo do basquetebol. Vinte e dois anos depois, a globalização da modalidade e a atenção da própria NBA para a Europa levou a um paradigma completamente diferente.

Desde que se abriu a porta aos atletas profissionais da NBA, os EUA cimentaram o seu domínio na modalidade. Ainda assim, já foram batidos nas grandes competições, como nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, no qual foram bronza atrás de Argentina e Itália, ou do mais recente Mundial de Basquetebo, vencido pela Alemanha e com os americanos fora do pódio.

Desaires fruto da ausência de algumas das grandes estrelas do país, sim, mas também devido à globalização do jogo, que faz com que em quatro das últimos cinco épocas da NBA, o MVP tenha sido um jogador europeu e, naquela que é exceção, tenha sido Joel Embiid, camaronês naturalizado norte-americano em 2022 a vencer.