*com Diogo Organista Pereira
Bem se sabe que, no futebol moderno, são cada vez mais raros os casos de lealdade e vinculação prolongada a um clube. Os fatores, esses, são variados, mas transversais a grande parte das ligas mundiais - e Portugal não é exceção.
No Minho, no entanto, reside um exemplo de amor à camisola: Matheus Magalhães. Esta sexta-feira, celebram-se dez anos desde o primeiro jogo do guarda-redes, atualmente com 32 anos, pelo SC Braga.
Contratado ao Américo Mineiro, o camisola 1 aterrou na cidade dos arcebispos no verão de 2014 e por lá se tem mantido desde então. A disputar a sua décima primeira época pelos Guerreiros do Minho, contabiliza duas taças de Portugal e duas taças da Liga no currículo.
Disputou o jogo 353 pelo SC Braga frente ao Maccabi Tel Aviv, nesta quinta-feira, e vai-se cimentado como o guarda-redes com mais jogos com a camisola bracarense - leva já mais 54 do que Quim.
Para assinalar o feito e conhecer melhor a figura que protege os postes do SC Braga, o zerozero esteve à conversa com Pedro Santos, jogador do DC United que partilhou o balneário com Matheus por três épocas, e com Rui Duarte, treinador que liderou os arsenalistas na reta final da temporada transata.
«É difícil segurar esse tipo de jogadores»
27 de setembro de 2014. A data que marca a estreia de Matheus na baliza do SC Braga, na vitória por 3-0 frente ao Rio Ave. Pedro Santos disputou essa partida (saltou do banco e anotou uma assistência) e recorda-se, principalmente, da agilidade do guardião.
«Lembro-me que era um guarda-redes muito ágil, ainda o é. Foi uma surpresa muito agradável, não estava à espera que fosse assim tão bom. A verdade é que tem mantido esse rendimento desde o momento em que chegou», referiu o extremo, de 36 anos.
Questionado sobre a longa carreira de Matheus ao serviço do SC Braga, o antigo jogador dos minhotos destacou a peculiaridade da situação face à dinâmica atual do mercado.
«Normalmente os jogadores ficam um par de anos e saem, por diversas razões. O mercado está sempre a movimentar-se. É um guarda-redes com muita qualidade e torna-se difícil de segurar estes jogadores.»
«Acredito que ele se sente confortável, no país e no clube, e pode ter sido um fator que o tenha mantido por muitos anos no SC Braga. É ótimo para ambos, o clube fica a ganhar porque mantém um excelente guarda-redes e o Matheus também porque está feliz onde está», completou.
Os dois jogadores conquistaram uma Taça de Portugal juntos, na temporada 2015/16, e Pedro Santos enalteceu o «cunho de Matheus» nas vitórias do SC Braga, destacando a segurança do guardião entre os postes.
«É um guarda-redes que aparece nos jogos grandes. Tem estado presente em quase todos os troféus que o clube tem disputado. Sempre demonstrou muita segurança na baliza, as caminhadas que fomos passando tiveram o cunho de Matheus. Fico muito contente pela carreira que tem tido no SC Braga», concluiu.
«Mensagem passa de forma natural»
Após 58 jogos no comando dos sub-23, Rui Duarte enfrentou o desafio de liderar a reta final do SC Braga na época 2023/24. Recordando a chegada ao balneário, o treinador destacou o profissionalismo e o carisma de Matheus, um «jogador que foi muito valioso» nessa fase.
«É um bom profissional, chega sempre muito cedo ao clube. São pormenores que revelam o seu empenho. Foi um jogador valioso, sentimos que queria muito ajudar a equipa a vencer. É um jogador com grande carisma dentro do clube e na própria equipa», revelou.
O técnico acredita que o guardião tem sido um ponto de referência dentro do clube e revelou que o trabalho potenciado pela «competição saudável» é o segredo que leva Matheus a trabalhar sempre no máximo e a elevar o nível.
«A mensagem para a formação passa de forma natural. Tem sido uma referência no clube, principalmente para os jovens guarda-redes da formação. Os colegas reconhecem a consistência e a competência, com o jogo e com a equipa. Tem peso dentro do balneário», começou por abordar a temática.
«Acho que o segredo do Matheus é ter rivais na posição que o mantêm focado e determinado. Tem competição saudável, que não facilita um milímetro, e obrigam-no a trabalhar forte, a ser ambicioso e a manter-se nesse nível durante tantos anos.»
Seleção portuguesa no horizonte
Estando há tantos em Portugal, é natural que Matheus vá já sentindo o país como seu. De resto, a relação entre o guardião e o território que o acolheu tornou-se ainda mais efetiva em 2020, ano em que o jogador do SC Braga passou a ter nacionalidade portuguesa.
«É uma alegria imensa. Já me sentia português, mas não tinha os documentos. Todos os jogadores têm o sonho de chegar à seleção e agora tenho o privilégio de poder sonhar em chegar à seleção do meu país», transmitiu, na altura, ao UOL Esporte.
O guarda-redes dos minhotos revelou também, de forma curiosa, que Diogo Costa e Rui Patrício, titulares habituais por Portugal, são dois das suas «grandes referências» na baliza, ao lado de Dida, Júlio César e Buffon.
O certo é que Roberto Martínez tem em mãos uma verdadeira dor de cabeça para resolver face à qualidade inegável de guarda-redes que a armada lusa possui. A consistência de Matheus por entre os postes do SC Braga faz com que o guardião seja uma opção para a posição mais recuada da seleção portuguesa.
Para já, fica a dúvida no ar: até onde irá o registo de Matheus no SC Braga?