«Uma aposta séria no futebol feminino com o completar dos escalões em falta», lia-se no programa oficial de candidatura de André Villas-Boas à presidência do FC Porto, no dia 17 de janeiro de 2024. A 21 de junho, José Manuel Ferreira foi apresentado como diretor e formou-se o projeto. A 1 de setembro do mesmo ano, virou realidade.

Daniel Chaves foi revelado como treinador da equipa e a primeira contratação chegou diretamente da Liga BPI. Cláudia Lima deixou o Valadares Gaia e rumou à nova equipa vizinha para ser capitã.

O plantel compôs-se com nomes das mais variadas divisões e a certeza era uma: começar imediatamente o projeto na terceira divisão nacional. Concretizou-se. A partir daqui, a preparação e... o Estádio do Dragão.

«Acordem-me que eu estou a sonhar»

A 26 de agosto, o FC Porto revelou que o jogo de apresentação da equipa seria diante do UD Leiria - também com equipa feminina inédita na história do clube - e logo no Estádio do Dragão.

As reações foram imediatas. O público em geral, as jogadoras mais conceituadas em Portugal, mas também das próprias jogadoras portistas. Inês Oliveira, médio de 20 anos que representou o Rio Ave na temporada passada, desabafou nas redes sociais. «Acordem-me que eu estou a sonhar. Não estou em mim. Como assim vou jogar no Estádio do Dragão?»

A reação de Inês foi a réplica de todo um sentimento no balneário azul e branco repleto de jogadoras que, por si só, já fazem parte da história do futebol feminino em Portugal. Mesmo assim, muito possivelmente, não estariam à espera do que tinham pela frente.

Domingo. 1 de setembro. 11 horas. Estádio do Dragão. Inicialmente, estava previsto que apenas uma das bancadas centrais do Estádio do Dragão estivesse aberta ao público, mas, a adesão foi tal que o emblema optou por abrir a bancada central oposta e, ainda, os topos do estádio - que se mostraram repletos durante os 90 minutos. Recorde nacional de assistência. 31.093 pessoas.

O recorde estava estabelecido em 27.221 pessoas que estiveram presentes a assistir ao duelo entre Benfica e Sporting, na 17ª jornada da Liga BPI em 2022/23. Agora, o número foi ultrapassado em mais de três mil.

Abrir as hostes com goleada e Matilde Vaz na história

No que concerne ao jogo, foi de domínio claro do FC Porto diante do UD Leiria. Foram apenas precisos dois minutos e Matilde Vaz, médio de 17 anos, entrou para a história como a primeira jogadora a marcar um golo pelas portistas.

Na sequência de um pontapé de canto, aos 15 minutos, Verónica Khudyakova cabeceou para o segundo golo e, logo de seguida, de grande penalidade, Caty Pereira fez o terceiro.

Pouco tempo para lá da meia hora, Inês Oliveira aumentou a vantagem e, ainda antes do intervalo, Verónica selou o bis na conta pessoal.

Sem reação ofensiva do UD Leiria, o FC Porto permaneceu em busca do avolumar do resultado e Renata Correia, aos 60 minutos, do meio da rua, disparou uma bomba que fuzilou as redes leirienses.

Lara Gabriel também viria a inserir o nome na lista de marcadoras, pouco tempo depois e, para fechar as contas, Carolina Brito e Carolina Aroso anotaram os últimos golos. 9-0 foi o resultado final.

«Em dois anos estaremos na I Divisão a partir a casa toda»

Antes do encontro, André Villas-Boas falou dentro do balneário com a equipa sobre este novo projeto, esta adesão e sobre o futuro da equipa. Os objetivos são claros: a Liga BPI.

«Tenham bem noção do momento que estão a viver. Daqui a 20/30 anos vai falar-se disto, deste momento histórico do FC Porto, do que vem nos jornais, nas revistas e redes sociais. É um momento de grande orgulho para todos nós. Que recordem sempre este momento com grande emoção», começou por referir.

Este é um projeto de construção, mas estou seguro que, daqui a dois anos, já estaremos na I Divisão a partir a casa toda. Muitos parabéns e boa sorte», finalizou o presidente do FC Porto. No final, o futebol feminino em Portugal também sai vencedor.