PARIS - «Ucrânia, isto é para ti. É para ti, minha querida!»
Quem visse a emoção de Olga Kharlan após conquistar o bronze na competição de sabre, nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, talvez pudesse pensar que se tratava do melhor resultado da atleta de 33 anos, tal a emoção com que foi festejado.
Nada mais errado. Olga já foi seis vezes campeã do mundo, num total de 61 pódios, e o bronze conquistado na segunda-feira foi a quinta medalha olímpica da sua carreira.
Mas para chegar a Paris, a atleta ucraniana teve de vencer uma guerra. Uma batalha tão dura, que faz parecer um jogo de crianças a recuperação que fez no combate pelo bronze, no qual esteve a perder frente à sul-coreana Se Bin Choi por 11-5, mas que acabou por vencer no ponto de ouro por 15-14.
Afinal, Olga tinha sido desqualificada na prova que valia o apuramento para os Jogos Olímpicos. Nos Mundiais de Milão, há um ano, ela venceu a russa Anna Smirnova. Mas depois recusou-se a cumprimentar a adversária, provocando um incidente diplomático.
Revoltada com o gesto de Olga, Smirnova recusou-se a sair da pista. Sentou-se e ali ficou mais de 45 minutos à espera do cumprimento. O resultado foi pesado para a esgrimista ucraniana que acabou desqualificada e, automaticamente afastada de Paris 2024.
Resgatada pelo presidente do COI
Mas afinal, como conseguiu Olga Kharlan marcar presença na competição disputada no impressionante Grand Palais?
Foi salva pela mais alta instância: Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional (COI).
Sensibilizado pela forma como a esgrimista foi afastada da competição, Bach, também ele um antigo esgrimista, escreveu-lhe diretamente uma carta e prometeu-lhe que tudo faria para garantir a presença de Olga em Paris.
E assim fez. Entrou em confronto com a Federação Internacional de Esgrima – a mesma entidade que após a invasão russa ao território ucraniano votou a continuidade em competição dos atletas russos, ainda que sem símbolo -, que se defendeu da decisão de desqualificação com os regulamentos.
Ora, Olga, com a ajuda de Bach, Olga venceu o braço de ferro e viajou para Paris, ao contrário de todos os esgrimistas russos, que viram os seus melhores atletas impedidos de se qualificarem por pertencerem às forças armadas.
«Para todos os atletas mortos pela Rússia»
Por isso, a conquista daquela medalha de bronze, a primeira medalha da Ucrânia nesta edição dos Jogos Olímpicos, era muito mais do que apenas uma medalha. Era uma batalha ganha, numa guerra em que as perdas do país nos últimos dois anos têm sido irreparáveis.
Isso mesmo afirmou Olga no final da competição.
«Esta medalha é dedicada às forças armadas da Ucrânia e a todos os atletas que não puderam competir nos Jogos Olímpicos porque foram mortos pela Rússia», começou por dizer.
Porque a conquista dela é também uma força-extra para a sua gente. E Olga sabe bem disso.
«Todos os atletas ucranianos que vieram a estes Jogos Olímpicos estão a sofrer. Todos temos as nossas próprias histórias. Mas espero que esta medalha consiga levar alguma alegria e esperança ao meu país. E se viram a minha última luta, nunca desistam. Porque mostrámos que a Ucrânia nunca desiste.