PARIS - A competição de salto com vara nestes Jogos Olímpicos era uma daquelas de 50-50.

E não há engano. É verdade que estavam 12 atletas em competição, mas a dúvida era só uma: Armand ‘Mondo’ Duplantis ia ultrapassar os 6,25 metros e bater o recorde do mundo pela nona vez, ou não?

Era tudo o que a final disputada no Stade de France podia responder, tal a superioridade que o sueco de 24 anos tem para todos os adversários.

À partida, os principais adversários eram o norte-americano Sam Kendricks e o filipino Ernesr John Obiena. Mas para se perceber a diferença das marcas dos três até nos podemos ficar apenas pelo melhor resultado do ano até esta segunda-feira.

Duplantis saltara 6,24m, o tal novo recorde; Obiena conseguira passar os 6 metros; e Kendricks não fora além dos 5,95m.

E o leitor pode dizer: não é justa a comparação, uma vez que foi em abril que o sueco fixou o recorde mundial.

Vamos ser claros: nenhuma comparação entre Duplantis e os restantes atletas pode ser justa. Porque não há equilíbrio na competição entre eles. Ponto. Seja qual for o critério.

Desde que bateu o recorde de Sergey Bubka (6,14m) em 2020, Duplantis já tinha reforçado o máximo mundial as tais oito vezes, ele que é responsável por mais de um terço de todas as vezes que algum homem ultrapassou os seis metros na especialidade.

Quando começa a ser sério?

Ora, tendo em conta o cenário, era fácil perceber o porquê de a bandeira da Suécia ser uma das mais vistas a caminho do estádio, sem contar com a de França, naturalmente.

Tal como foi natural vê-lo abdicar do primeiro salto do concurso, com a fasquia em 5,50m. Saltou depois os 5,70m. Vestiu o fato de treino e sentou-se de braços cruzados a ver alguns adversários terem dificuldade em passar a marca, o letão a falhar as três tentativas... E ele voltou a abdicar.

Viu mais três adversários falharem ao tentar os 5,80m, levantou-se para esticar as pernas e foi passear até aos 5,85m. Depois descalçou-se, voltou a vestir o fato de treino foi até à bancada trocar umas ideias com o pai, que também é o treinador. Talvez sobre a prova, talvez sobre o que seria o jantar, e deitou-se a ver adversários cair.

A não passarem dos 5,85m foram dois. Nos 5,90m, outros tantos. E Duplantis lá foi ver como estava a temperatura do ar aos 5,95m.

Essa altura já só foi ultrapassada por ele e por Kendricks, que graças a isso conquistou a medalha de prata - o bronze foi para o grego Emmanouil Karalis que saltou 5,90m.

E já sozinho contra ele mesmo, lá foi Mondo desafiar a gravidade mais uma vez.

Campeão olímpico em Tóquio 2020, quatro vezes campeão do mundo – duas indoor e duas ao ar livre – Duplantis abriu a festa a pulverizar o único recorde que ainda não tinha: o olímpico, que pertencia ao brasileiro Thiago Braz (6,03m).

Com o público no estádio a dar-lhe toda a atenção que ele merece, já sem outras competições a decorrer, Duplantis subiu o máximo olímpico para 6,10m... à primeira tentativa, pois claro.

Sem tempo a perder - mas ainda deu para sentar um pouco junto dos adversários que tinham estado no concurso dele -, o sueco mandou colocar a fasquia nos esperados 6,25m.

Se dúvidas houvesse, ele desfez: ia tentar aumentar o máximo mundial pela nona vez.

À primeira tentativa, tocou ligeiramente a fasquia, parecia que ela ia querer ficar ali e colaborar... mas caiu. O sueco fez um corte na mão, precisou de fazer uma ligadura, mas não era aquilo que o ia travar. Na segunda, o toque foi mais forte e ele até agarrou a fasquia. Talvez para ter uma conversinha com ela.

E à terceira... Bem, à terceira, as colunas do estádio que tocavam a música «Allumer le feu», calaram-se. O sueco disse que sim com a cabeça. Cerca de 70 mil pessoas bateram palmas a compasso - ou seriam os corações a palpitar pela possibilidade de ver acontecer história? Armand Duplantis estava pronto para incendiar a noite. Arrancou com tudo o que tinha. E voou para lá dos 6,25m.

O campeão olímpico mais óbvio de sempre tinha um recorde do mundo reservado para esta noite. Mais um recorde do Mondo. E pensar que ele tem apenas 24 anos...