PARIS – A zona mista de qualquer competição olímpica é um corredor de emoções. Mas pelo ritmo dos combates de judo, talvez nenhuma outra obrigue a lidar tanto com desilusão e frustração.
Uns atrás de outros, os judocas vão passando com a cara de quem acabou de perder o mundo. Muitos choram. Alguns recusam falar. Outros falam, e falam e continuam a falar… sozinhos. É a forma de descarregarem tudo o que lhes vai no íntimo.
Bárbara Timo chora. Alguns minutos depois de ter sido eliminada no primeiro combate da categoria de -63 kg, a judoca lusa chega junto dos jornalistas de olhos inchados de quem já chorou muito. E vai continuar.
«Estava um combate duro, percebi que ela me estudou muito, mas consegui encontrar uma forma de combater isso e de estar por cima. Sentia que podia levar a luta pelo tempo que fosse preciso, porque não estava nada cansada, mas isto é judo e não aconteceu», lamentou.
A judoca de 33 anos, que participa pela segunda vez consecutiva nos Jogos Olímpicos, partilhou depois a dureza de preparar um ciclo olímpico durante quatro anos para depois ser eliminada logo a abrir.
«É muito duro [pausa longa para controlar a emoção]. O caminho deu muito trabalho e trouxe muitas dúvidas. Durante muitos momentos, achei que não seria possível. Noutros, tive momentos incríveis e cheguei a ser oitava ou nona do ranking mundial. Mas vinha confiante, mesmo sabendo que nos Jogos Olímpicos tudo é possível. Só que aquilo que o judo tem de belo, também tem de ingrato. O que me faz ter esperança de que posso ganhar, é o mesmo que depois me faz perder assim. Porque todas somos iguais no tatami», resumiu.
Depois, voltou a desabar perante a pergunta se ainda terá forças para ir em busca da presença na próxima edição olímpica, fazendo uma longa pausa antes de avançar com as palavras.
«Não sei. Primeiro acho que esta tristeza vai levar muitos dias a passar. E, depois, a vontade de vestir o quimono vai demorar a voltar outra vez. Estar aqui hoje não é divertimento…», atirou, voltando a cair num pranto.
«Isto é uma vida de sacrifício longe da família, de lesões, incertezas… A partir do momento em que eu meter na cabeça que eu quero ir a Los Angeles [2028], eu aviso. Mas por enquanto preciso de m tempo e espaço. Porque foi muito duro chegar até aqui e é muito triste terminar assim», finalizou.