*com Diogo Organista Pereira
Se chegar aos 100 jogos como treinador numa única competição não é tarefa fácil, fazê-lo numa 1ª Liga e com apenas 38 anos torna o feito ainda mais assinalável. Pois bem, é precisamente esta marca redonda que Luís Freire irá alcançar esta sexta-feira no jogo entre Rio Ave e FC Famalicão.
O técnico estreou-se na prova em setembro de 2020, ao serviço do recém promovido Nacional, no empate (3-3) frente ao Boavista. A primeira vitória, no caso por por 0-1, surgiu logo na jornada seguinte, na deslocação ao reduto do Farense, com um golo solitário de Brayan Riascos.
O treinador natural da Ericeira rumou ao Rio Ave no final dessa temporada e catapultou o emblema de Vila do Conde novamente para a I Liga. Soma já 125 jogos ao serviço dos rioavistas e é o segundo da história do clube com mais jogos, apenas atrás de Carlos Brito.
É também, entre os treinadores atualmente na competição, o terceiro com mais jogos no maior escalão de Portugal, apenas atrás de Rúben Amorim, com 163 partidas, e Carlos Carvalhal, com 252 jogos.
Com a centena de partidas do técnico em mente, o zerozero esteve à conversa com Joca, jogador que trabalhou durante três temporadas com o treinador.
«É jovem, tem uma margem de progressão enorme»
Após duas épocas cedido ao Leixões, Joca, agora nos chineses do Wuhan Three Towns, regressou ao Rio Ave pela mão de Luís Freire na temporada 2021/2022 e disputou 76 partidas sob a alçada do técnico. Na hora de falar sobre o seu antigo treinador, o criativo não poupou nos elogios.
«A experiência foi muito positiva. Apesar de ser muito novo, o mister Luís é extremamente profissional. Tem uma visão muito delineada do que quer, o seu plano de jogo tem de estar posto em prática em todos os jogos. Foi uma experiência muito enriquecedora, ajudou-me muito a compreender o jogo», começou por dizer.
«Um treinador com 38 anos é extremamente jovem. Chegar a esse marco, aos 100 jogos na Liga Portuguesa, com essa idade só demonstra que tem uma margem de progressão muito grande. Não é fácil e, por isso, está de parabéns», afirmou.
Questionado sobre a figura de Luís Freire dentro do balneário, Joca, de 28 anos, destacou a abertura que Luís Freire tem com os seus jogadores e enalteceu a facilidade com que o treinador adquiriu o respeito do plantel.
«É uma pessoa super interessada pelos homem por trás do jogador. Tem sempre um interesse especial sobre a nossa vida fora do futebol, sobre a nossa família, e, assim, torna-se mais fácil produzir dentro de campo. Tem uma enorme preocupação nesse aspeto e tem uma relação muito forte com os jogadores», contextualizou.
«É uma pessoa frontal e direta, tem uma abordagem muito aberta. Sabe exatamente aquilo que quer. Mas quando as coisas não são feitas da maneira que ele quer... [risos]. Apesar de cobrar muito, também sabe dar o devido valor. Ganha facilmente o respeito do jogador, o plantel sempre o respeitou desde o primeiro dia.»
«Fomos atrás do líder e conquistámos o objetivo»
Joca foi aposta recorrente no conjunto de Luís Freire durante a caminhada na II Liga, trajeto esse que culminou com a conquista do título e com o regresso dos rioavistas ao primeiro escalão. O ex-Rio Ave enalteceu o papel do técnico no conquista do clube, apesar das adversidades sentidas durante essa época.
«Tenho muitas boas memórias com ele, principalmente do ano em que fomos campeões. Foi um ano extremamente difícil. Para o clube, para os adeptos e para a imprensa era obrigatório o Rio Ave subir, pela história e pelo orçamento. Mas os campeonatos fazem-se das equipas que jogam melhor, não da história nem do dinheiro. Desde o primeiro dia, o mister disse que íamos subir», descreveu.
«Existiram algumas adversidades, tais como uma fase mais negativa ou o período em que o plantel teve um grande surto de Covid-19. Tivemos de fazer uma grande quantidade de jogos num curto espaço de tempo, mas ele foi sempre o primeiro a passar a mensagem do jogo a jogo. Fomos atrás do líder e conquistámos o objetivo.»
A segunda temporada de Joca com Luís Freire já foi mais complicada, isto na medida em que o médio-ofensivo sofreu uma grave lesão no joelho No entanto, o internacional jovem por Portugal fez questão de realçar a importância das várias conversas que foi tendo com Luís Freire.
«Ele foi uma pessoa muito importante no período em que estive lesionado. Deu-me sempre segurança de que, quando voltasse, o lugar estaria à minha espera e que acreditava muito em mim. No ano seguinte, joguei sempre e ele confiou muito em mim. Tenho muitas boas memórias com ele, nunca me irei esquecer», relembrou.
«É uma pessoa muito divertida, gosta muito de brincar. Também é muito amigo dos seus amigos. O seu staff é composto por amigos de infância, de escola e de faculdade. Juntou-os todos e fazem parte da sua equipa técnica. É uma pessoa muito determinada, extremamente focada naquilo que quer.»
«Na China as equipas não têm medo de se expor»
O capítulo de Joca com a camisola do Rio Ave encerrou-se no final da temporada passada e o criativo rumou à China, Na sua primeira aventura fora de portas. O jogador natural de Braga contou-nos também como tem sido a experiência num campeonato e num país tão distintos.
«Tive que me adaptar aos colegas, aos treinos e a uma cultura muito diferente. Cheguei numa altura em que o clima era de verão e na minha cidade [Wuhan] estavam 40/45 ºC todos os dias. Custou-me muito. Há uma certa barreira linguística, mas o povo gosta de agradar quem vem de fora. Tem sido bastante enriquecedor», abordou.
«Felizmente, tenho tido bons números. É uma liga muito competitiva, os jogos são todos difíceis. Aqui, o jogador estrangeiro faz muito a diferença. As equipas chinesas ainda não têm uma cultura tática como na Europa, então os jogos são muito abertos, querem sempre atacar.»
As diferenças em relação a Portugal são muitas...
«É mais fácil do que em Portugal, onde se pensa muito no lado estratégico e tático do jogo e joga-se para o ponto. Aqui querem sempre ganhar os jogos, não têm medo de se expor. Por isso é mais fácil fazer números», destacou, assumindo que um regresso a Portugal num futuro próximo não faz parte dos seus planos.
«Portugal é a minha casa e não há nada como a nossa casa. Mas, para os próximos anos, gostaria de continuar a jogar fora de portas. Infelizmente, Portugal não tem a capacidade financeira destes países e, neste momento, estou a pensar mais na minha família. Tenho um filho, quero ter mais e proporcionar-lhes coisas boas.»
E se o futuro a curto prazo de Joca passa pela China, o de Luís Freire é também certo: o técnico tem em vista a vitória frente ao FC Famalicão, esta sexta-feira, para poder festejar o marco histórico dos 100 jogos na I Liga da melhor forma possível.