Há uma Sociedade Filarmónica mais antiga que os Jogos Olímpicos. Um clube com 20 anos que nem tinha tecto quando nasceu. E até o clube de uma aldeia.Paris recebe o evento desportivo mais importante do mundo. Lá vão estar os mais rápidos, os mais fortes e os que saltam mais alto. Mas também é lugar para os pequenos que se agigantam.A BOLA foi conhecer alguns dos clubes que, apesar do nome poder dizer pouco ao grande público, conseguiram ter atletas nos Jogos Olímpicos.

Secção surgiu em 2009 no seio do Clube de Natação e foi crescendo, tendo os pais dos atletas e do treinador como estrutura; Agora vai ter dois atletas nos Jogos Olímpicos

Paulo Antunes nasceu em Torres Novas e praticou natação no clube da sua cidade entre os quatro e os 18 anos, quando foi para Lisboa estudar desporto e se virou para o triatlo, atingindo rapidamente sucesso que fez dele um atleta de alto rendimento e presença nas seleções.

Mas após concluir os estudos, decidiu apostar no treino. O triatlo era o caminho que queria seguir. E era em casa que o queria fazer.

Casa, neste contexto, era Torres Novas, mas também o seu Clube de Natação de Torres Novas a quem sugeriu a criação de uma secção independente vocacionada para a formação, em 2009.

«Começámos com duas atletas, a Mariana Correia e a Joana Miranda, ambas ainda ligadas ao clube», recorda o treinador e principal rosto do clube que hoje é tricampeão nacional de triatlo, a uma prova do tetra.

Ou seja, o clube do Paulo, da Mariana e da Joana cresceu. Atualmente, a secção tem 75 atletas, entre escola e elites. 21 atletas formados ali já representaram Portugal, com mais 300 internacionalizações que tiveram como destaque dois títulos mundiais de juniores, num total de nove medalhas de ouro, 15 de prata e 16 de bronze em competições internacionais.

Tudo isto, sem nunca perder o ambiente familiar, o que muito orgulha o técnico.

«Os resultados foram começando a aparecer, fruto da dedicação dos atletas, dos pais dos atletas e dos pais do treinador também», sublinha sorridente, explicando que a simbiose entre todos foi aquilo que serviu de base a um crescimento tão rápido.

«A relação entre treinadores, pais e atletas foi sempre muito forte e fez com que clube fosse chegasse ao sucesso. Até porque, à medida que a secção foi crescendo, foi necessário que os pais dos atletas assumissem cargos na estrutura diretiva. Porque estávamos a começar no zero», explica.

Mudança para Lisboa e o sonho Olímpico

Ora, o crescimento da secção de triatlo do Clube de Natação de Torres Novas foi tal que chegou… a Lisboa. 

«A 100 km de Lisboa, é inimaginável manter os atletas ligados ao clube, até porque muitos deles integram o CAR. Por isso, temos um grupo de treino em Lisboa. Ou seja, neste momento estamos a funcionar em dois polos: a escola em Torres Novas e um grupo em Lisboa com 14 atletas», explica Paulo Catarino, dirigente da secção.

Tudo porque Paulo Antunes sentiu que tinha de continuar a acompanhar os seus atletas e mudou-se com a família para a capital, onde trabalha, atualmente, também com atletas de outros países que se juntaram no Jamor ao grupo de treino do Clube de Natação de Torres Novas.

E nesse grupo estão dois dos quatro atletas que compõem a equipa portuguesa de triatlo que vai competir em Paris 2024: Ricardo Batista e Maria Tomé. Os dois vão tornar-se nos primeiros atletas do clube – que celebra 49 anos em outubro – a marcar presença em Jogos Olímpicos.

«Vendo todo o trajeto percorrido, poder estar com eles neste palco é algo incrível. Nem preciso de pensar no dia das provas, o trajeto foi longo e é incrível», orgulha-se o técnico.

«Aquilo que o que foi idealizado há uns anos bateu certo», reforça, ele que garante que, apesar de ter sido um objetivo traçado como técnico, por não o ter conseguido viver como atleta, jamais foi uma obsessão.

«Nunca coloquei grandes objetivos, para que os atletas não se frustrarem com os resultados. Só falámos dos Jogos Olímpicos com o Ricardo depois de ele ter vencido o título mundial júnior, em 2019», revela.

O novo braço armado da cidade

Hoje, na cidade que tem um castelo e um braço armado como brasão, dificilmente há alguém que não conheça os triatletas do clube. E isso é motivo de orgulho para todos.

«Torres Novas olha para o triatlo como uma bandeira e eu fico muito satisfeito por ver esse orgulho. Dá-me um sentimento de dever cumprido», sublinha Paulo Antunes, que não tem dúvidas que a cidade tem condições para continuar a ter atletas nos Jogos Olímpicos em edições futuras.

De resto, o único lamento do técnico é a pouca atenção dada a um clube que tem dominado a modalidade em Portugal e que tem alcançado tantos sucessos internacionais.

«O Torres Novas pode ter uns resultados muito bons, mas se fosse um atleta do Benfica haveria uma exposição mediática muito maior. E só isso faz com que nos sintamos pequenos, querendo ser grandes, e já conseguindo resultados enormes», conclui Paulo Antunes.