PARIS – O combate de João Fernando acabou há poucos minutos e no caminho para a zona mista, numa zona escura por detrás da estrutura metálica que sustenta as bancadas da Arena Champ-de-Mars, sozinha, sentada no chão e embrulhada numa bandeira de Portugal cruzamo-nos com uma amiga de longa data do atleta natural de Coimbra.

«Temos uma relação de muito tempo e sofro muito por ele», justificou, com as lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto, quando confortada pela reportagem de A BOLA.

Aos 24 anos, João Fernando acabara de fazer a estreia em Jogos Olímpicos e perdera no ponto de ouro (prolongamento) logo no primeiro combate. Mas por trás daquela luta de pouco mais de cinco minutos, estavam anos e anos de preparação, de sacrifícios e privação. Privação, por exemplo, de estar com amigos como aquela que agora chora a dor do amigo.

O judoca que é também formado em Engenharia Espacial, um dos cursos com a nota de acesso mais alta, defrontava o número 5 do mundo e por isso era preciso… voar. Porque pela teoria podia ter menos pressão por poucos acreditarem que ele podia vencer. Mas ele é o primeiro a contrariar essa ideia, depois de ter estado por cima durante quase todo o combate.

«Eu pensava! Sinceramente, eu pensava e só tinha um objetivo que era ganhar. Não interessa muito quem esteve por cima, interessa quem ganhou o combate. Por isso é que digo que fico satisfeito por ter dado tudo, mas muito insatisfeito com o resultado», começou por dizer.

E reforçou que a boa réplica que deu a um adversário de ranking superior (ele é 24.º), não serve como vitória moral.

«Deixa-me muito triste na mesma, por ter saído da competição nesta fase. Não posso dizer que estou satisfeito, muito pelo contrário. Não digo que tenho de estar de cabeça erguida, mas sim cabeça limpa, porque dei o meu melhor», acrescentou, olhando já para o próximo ciclo olímpico.

«Se eu quero chegar a Los Angeles e estar à frente destes judocas, tenho de começar já a pensar nisso. Tenho quatro anos de muito trabalho pela frente», atirou.

Depois, ainda que preferindo não responder à pergunta de se em Portugal se cobra mais do que aquilo que se dá aos atletas, João Fernando pediu… reconhecimento.

«É muito importante que toda a gente reconheça o trabalho que nós atletas fazemos para conseguir estar nuns Jogos Olímpicos. Seja durante uma vida toda, durante quatro anos, ou na reta final de um apuramento. Não é só o resultado nos Jogos Olímpicos que é importante, por isso há que reconhecer o trabalho de todos os atletas e que infelizmente podem não alcançar os seus objetivos.