Para o Sporting, a curta viagem a Madrid, um ir no pé e voltar no outro de avião, valeu uma bagagem de desgosto. De Lisboa a equipa levava uma desvantagem, de 1-2, da primeira mão da 2.ª eliminatória da Liga dos Campeões, a derradeira onde as equipas se moem pelo acesso à fase de grupos da prova. Da capital espanhola regressaram com outra derrota, novo 3-1, o fim de uma esperança em alcançar o que teria sido uma estreia para o clube. Ainda antes de as leoas aterrarem em Madrid com as chuteiras, Mariana Cabral já estava descontente.

Não propriamente pelo primeiro resultado ou por o pessimismo a agoirar antes de jogar para o segundo: a treinadora não gostou do facto de a equipa, tendo viajado na véspera da partida, o tivesse feito num voo que estava marcado para bastante cedo, obrigando a comitiva a despertar ainda de madrugada. Do mesmo modo que um mês antes, não gostou de Joana Martins, média do Sporting, demorar duas semanas a ser operada após fraturar a clavícula.

Em relação a Madrid, nada disse publicamente. Quanto à situação da sua jogadora, assumiu, em agosto, estar “preocupada” quando falou na antevisão às meias-finais da Supertaça, deixando um desencanto subliminar no ar ao ser questionada sobre as razões para as delongas na cirurgia: “Não sou médica. Essa questão é mais para o departamento médico.” Foi uma ocasião em que Mariana Cabral, mesmo com trajes suaves, prenunciou um certo desagrado.

Uma e outra situação, acrescidas a várias outras, levaram a treinadora do Sporting a matutar a decisão que tomou não esta sexta-feira, em que assinou a rescisão com o clube, mas na quinta-feira passada, dia em que regressou com a equipa de Madrid: apresentar a demissão do cargo. Tinha contrato até ao final desta época, no verão de 2025.

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Os atritos com responsáveis da estrutura do Sporting para o futebol feminino, em especial vindos de fagulhas de discordância quanto ao investimento na equipa, fosse na contratação de jogadoras ou nas condições providenciadas, delapidaram as relações internas com o tempo. Em três épocas completas, Mariana Cabral não logrou ser campeã nacional, mas conquistou uma Taça de Portugal (2022) e duas Supertaças (2022 e 2024). Em números, a pegada deixada pela treinadora totalizou 151 jogos, distribuídos por 112 vitórias, 13 empates e 26 derrotas.

Entre esses resultados menos desejáveis, 10 aconteceram contra o Benfica, rival e atual força dominadora do futebol feminino português - vence o título nacional desde 2021 e persegue, esta temporada, o pentacampeonato.

A mais recente teve data recente, na última segunda-feira. “Não é uma semana agradável para ninguém”, lamentou Mariana Cabral, em Alvalade, onde o Sporting perdeu por 0-2 meros quatro dias volvidos da derrota em Madrid. Com a treinadora saem do clube também os seus dois adjuntos, sendo que na restante equipa técnica não sobra um elemento que possa, oficialmente e na ficha de jogo, constar como treinador principal, por lhes faltar o nível III (UEFA A), mínimo estipulado pelas regras da Federação Portuguesa de Futebol.

Para já, no comunicado em que oficializa a “revogação do contrato que ligava a treinadora ao clube”, o Sporting informa que será João Mateus, um dos adjuntos que sairá, a assumir o comando da equipa no encontro de sábado contra o Torreense. “A constituição da nova equipa técnica será apresentada oportunamente”, refere o emblema verde e branco.