A fábrica da Audi em Bruxelas, que emprega cerca de 3.000 pessoas para fabricar um automóvel elétrico topo de gama, poderá encerrar em 2025.
As vendas deste SUV, o Q8 e-tron, estão em queda e a direção da empresa aponta para "custos de produção elevados" na capital belga.
No início de setembro, foi anunciado que não seriam produzidos outros modelos Volkswagen no local, depois de os últimos exemplares deste serem lançados no próximo ano.
Hoje de manhã, uma manifestação de milhares de trabalhadores -- 5.500 segundo a polícia, "mais de 10.000" segundo os organizadores -- pretendia apelar aos dirigentes da UE para a necessidade de investimentos maciços para "proteger os empregos industriais".
"O que está a ser feito na Europa é o oposto do que deveria ser feito. Estamos a falar de austeridade quando, na verdade, precisamos de investir milhares e milhares de milhões na indústria", disse à AFP Thierry Bodson, presidente da FGTB (socialista), que se juntou aos outros dois grandes sindicatos belgas numa frente comum.
"Sabemos que, nos países europeus, é necessário que haja uma base de cerca de 25% de atividade industrial em torno da qual se constrói o resto da atividade económica... Na Bélgica, nem sequer atingimos os 20%", acrescentou.
Entre petardos, os manifestantes ergueram cartazes denunciando uma série de reduções de postos de trabalho e o "esmagamento" dos trabalhadores da indústria e da distribuição.
As delegações vieram da Alemanha, Polónia, França e Países Baixos.
"As nossas vidas não são linhas de produção", proclamava um cartaz exibido por um empregado do departamento de baterias da Audi-Bruxelas.
Na fábrica, situada no município de Forest, em Bruxelas, o trabalho não recomeçou em setembro, após as férias de verão.
O conflito agravou-se quando os trabalhadores grevistas roubaram as chaves de 200 automóveis para os impedir de sair da fábrica. Acabaram por devolvê-las.
A manifestação surge numa altura em que a concorrência dos carros elétricos da China é uma questão pendente e a União Europeia está dividida quanto à imposição de sobretaxas, sob o risco de provocar retaliações comerciais por parte de Pequim.
"Os europeus negligenciaram a produção de automóveis elétricos de gama média, enquanto os chineses nos invadem com modelos muito mais baratos que conquistam quotas de mercado", sublinhou Bernard Clerfayt, ministro do Emprego do executivo regional de Bruxelas, contactado pela AFP.
Na sua opinião, a indignação dos trabalhadores da Audi é "muito legítima, muito compreensível, sobretudo porque a direção não é clara quanto aos seus planos". "Não há dúvida de que as perspetivas financeiras não são boas", prosseguiu Clerfayt.
A direção da filial do grupo VW sediada em Bruxelas mencionou cenários alternativos para a fábrica de Forest e discussões em curso com "potenciais investidores", mas não deu mais pormenores.
Para Jan Baetens, representante do sindicato cristão belga CSC, o mal-estar resulta do prazo de 2035, que deverá marcar o fim das vendas de novos veículos com motor de combustão interna na UE, a favor de veículos totalmente elétricos.
Esta disposição está a ser contestada, nomeadamente pela Alemanha.
"Estamos a pressionar as pessoas para comprarem carros elétricos, apesar de não estarmos preparados em termos de infraestruturas", lamentou o sindicalista.
Os sindicatos belgas tinham convocado uma manifestação nacional e realizaram-se greves em vários setores, como o dos transportes urbanos em Bruxelas, onde a circulação na rede de elétricos, autocarros e metro foi interrompida.
MC // CSJ
Lusa/Fim