Que balanço faz do Congresso?
O balanço que faço deste 18º Congresso Português do AVC é extremamente positivo. A adesão foi notável, com mais de 800 inscritos, refletindo o elevado interesse e a importância desta área para a comunidade médica. O programa foi particularmente abrangente, integrando 11 convidados internacionais e cobrindo uma vasta gama de tópicos, desde os cuidados pré-hospitalares até à prevenção secundária do AVC. Esta diversidade temática demonstra, mais uma vez, o nosso compromisso em incluir todas as especialidades envolvidas e todos os elementos da cadeia de cuidados do AVC.
Um dos momentos mais marcantes foi, sem dúvida, a homenagem ao Professor José Ferro, que foi nomeado sócio honorário e que ficou responsável pela conferência de abertura, dedicada à antevisão do futuro da investigação nesta área.
A vertente científica do Congresso também se destacou pela qualidade e quantidade dos trabalhos apresentados, assim como das candidaturas à bolsa de Investigação Professor Castro Lopes, evidenciando a dinâmica da investigação em AVC em Portugal e a vitalidade da nossa comunidade científica.
Destaco ainda o estudo PANORAMA-AVC, um projeto inovador, nacional, promovido pela SPAVC, que envolveu 59 hospitais e mais de 100 investigadores na avaliação de cerca de 730 doentes com AVC, fornecendo uma perspetiva alargada daquilo que é o estado dos cuidados ao AVC em Portugal. Apesar de a análise ainda estar em curso, são já notórias as primeiras conclusões, desde logo a necessidade de melhorar o encaminhamento para Unidades de AVC, uma vez que apenas 43% dos doentes tiveram acesso a este nível de internamento, um número bastante abaixo das recomendações europeias. O acompanhamento dos doentes no pós-alta revelou igualmente desafios significativos, com uma grande parte a necessitar de apoio social ou de cuidados continuados e muitos a enfrentarem dificuldades no acesso a fisioterapia e consultas de seguimento. Estes resultados são cruciais de modo a identificar áreas de melhoria.
“O Congresso consistiu numa oportunidade de reflexão coletiva sobre os desafios que persistem e as oportunidades para melhorar o cuidado aos doentes com AVC.”
Quanto ao PANORAMA-AVC, qual é a sua reflexão sobre os resultados que foram apresentados e o impacto do projeto?
Podemos desde já retirar pelo menos duas conclusões importantes a partir dos resultados deste estudo. Por um lado, confirmam a evolução positiva nos tratamentos da fase aguda do AVC, refletindo o empenho que as múltiplas equipas nacionais têm colocado na melhoria da resposta imediata. No entanto, por outro lado, estes resultados evidenciam também que existe um caminho considerável a percorrer, por exemplo, no que respeita ao acesso às unidades de AVC. A constatação de que apenas 43% dos doentes se encontravam internados em unidades de AVC salienta uma discrepância significativa face ao que seria expectável e é um indicador claro de que necessitamos de uma estratégia de melhoria neste aspeto. É fundamental, por isso, promover uma discussão aberta e construtiva que envolva os responsáveis pela organização dos cuidados de saúde relativamente à importância de dar prioridade às Unidades de AVC.
“Temos de assegurar a disponibilidade de um número suficiente de camas em Unidade de AVC para que o tratamento destes doentes em Portugal esteja alinhado com as melhores práticas internacionais.”
Quanto à reabilitação pós-AVC, ainda existem muitos desafios?
A reabilitação é uma etapa crucial no processo de recuperação e reintegração na sociedade para a maioria dos doentes com AVC. Apesar dos avanços nos tratamentos agudos e nos cuidados hospitalares, a transição para o domicílio apresenta ainda desafios significativos que necessitam de atenção especial. É essencial garantir uma transição suave do hospital para casa ou para as instituições que asseguram a continuação de cuidados. Muitos doentes requerem orientação social e apoio para navegar no sistema de saúde e nos recursos comunitários, assegurando que não haja uma interrupção nos cuidados de saúde. É também imperativo garantir um seguimento médico rigoroso para a prevenção secundária e controlo eficaz dos fatores de risco, em conjunto com a implementação destes planos de reabilitação duradouros e acessíveis que promovam a máxima recuperação funcional e qualidade de vida.
CG
Notícia relacionada