A participação numa competição de grande escala, pode ter um impacto significativo na saúde mental dos atletas, tanto positivo como negativo. Participar numa competição promove a satisfação e realização pessoal, acrescenta reconhecimento e validação e fortalece o crescimento pessoal e a resiliência. Por outro lado, acarreta muita pressão e expectativas, medo do fracasso, oscilações emocionais com altos e baixos e até isolamento social devido à exigência da preparação. O apoio psicológico nestes atletas é fundamental.

É fundamental que os atletas realizem uma preparação específica para lidar com os aspetos mentais e emocionais de competições de alto nível. Essa preparação deve ser tão rigorosa e sistemática como o treino físico. Essa preparação deve ser integrada no treinamento físico e incluir acompanhamento psicológico contínuo, desenvolvimento de estratégias de coping, gestão de stresse, apoio social e planeamento para o futuro. Com essa abordagem holística, os atletas estarão melhor preparados para lidar com as pressões e desafios únicos que acompanham uma competição de alto nível.

Ter robustez psicológica é tão importante (e em alguns casos até mais importante) quanto a preparação física para quem está em competição, especialmente em eventos de elevada pressão. A robustez psicológica, frequentemente referida como resiliência ou força mental, é a capacidade de manter a calma, o foco, a resiliência e a confiança em situações desafiadoras e desempenha um papel crucial na performance de atletas de elite.

Lidar com o sentimento de fracasso após um desempenho abaixo do esperado é um desafio comum para atletas de todos os níveis, mas é especialmente intenso em competições de alto rendimento. O sentimento de fracasso pode ser devastador, mas existem estratégias que podem ajudar os atletas a processar essas emoções de maneira saudável e a seguir em frente. É importante reconhecer e aceitar as emoções, reenquadrar o fracasso, estabelecer novas perspetivas, conversar com pessoas de confiança, definir novos objetivos, praticar a autocompaixão e permitir-se recuperar física e mentalmente.

O desporto de alto rendimento e o bem-estar podem coexistir, com uma abordagem equilibrada e holística, que integre saúde física e mental, suporte emocional, descanso adequado e uma cultura de apoio. É possível alcançar altos níveis de desempenho desportivo sem sacrificar o bem-estar dos atletas. Esta abordagem ajuda, não apenas a prevenir problemas como o burnout e lesões, mas também pode prolongar a carreira dos atletas e melhorar sua qualidade de vida, tanto durante quanto após a carreira desportiva.

Até há pouco tempo, a cultura desportiva valorizava pouco a saúde mental dos atletas de elite. O foco quase exclusivo em resultados, desempenho e vitórias criou um ambiente onde o bem-estar psicológico era, muitas vezes, secundário ou completamente ignorado.

Reconhecer e abordar as necessidades psicológicas dos atletas de elite é essencial para garantir que eles não apenas alcancem o sucesso desportivo, mas também mantenham o seu bem-estar e qualidade de vida ao longo de suas carreiras. O legado de atletas que colocaram a saúde mental em primeiro plano tem vindo a abrir o caminho para uma cultura desportiva mais equilibrada e consciente.

Como sociedade, ainda temos muito a aprender e evoluir quando se trata de saúde mental. Apesar dos avanços significativos nos últimos anos, vários desafios e lacunas permanecem, tanto em termos de compreensão como na forma como a saúde mental é abordada e tratada. Precisamos continuar a expandir a compreensão, reduzir o estigma, melhorar o acesso ao tratamento e integrar melhor a saúde mental com a saúde física. Isso requer um esforço coletivo, envolvendo governos, comunidades, empresas, educadores e indivíduos, para criar uma sociedade onde a saúde mental seja valorizada, compreendida e adequadamente cuidada.

No desporto, o caminho ainda é longo em termos de integração plena e valorização da saúde mental dos atletas. Apesar de alguns avanços louváveis, como o aumento da conscientização trazido por figuras de destaque como Simone Biles, ainda há muito trabalho a ser feito para que a saúde mental seja tratada com a mesma importância que a saúde física no contexto desportivo.

A transformação cultural e institucional é necessária para criar um ambiente onde a saúde mental seja tão importante quanto o desempenho e onde os atletas possam procurar ajuda sem medo de estigmas ou repercussões negativas para as suas carreiras. O caminho é longo, mas os passos iniciais já foram dados, e com o tempo, o desporto pode tornar-se um modelo de como a saúde mental deve ser tratada em todas as áreas da sociedade.

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