Em cada 10 portugueses, seis sentiram sinais de depressão, três já foram diagnosticados com esta doença e quase oito conheceram um familiar ou amigo a quem a depressão foi diagnosticada. Dados agora revelados e que integram um inquérito que procurou perceber “A visão dos portugueses sobre a depressão”.

O mesmo inquérito revela ainda que a população portuguesa não tem dúvidas de que a depressão é uma doença (86,2%), embora considerem que não é particularmente valorizada pela sociedade (70,9%). Um número significativo acham que é uma doença que fica para toda a vida (29%) e, ainda pensa, que é apenas um estado de espírito (28,5%).

Na opinião de Gustavo Jesus, médico psiquiatra, os dados do estudo agora apresentado revelam que “a maioria dos inquiridos afirma que a depressão é uma doença, o que me parece ser um grande avanço face à perceção que as pessoas anteriormente tinham sobre a depressão. No entanto, ainda há um caminho a percorrer, porque, por exemplo, 29% considera ainda que é uma doença que fica para toda a vida, o que não é verdade na maior parte dos casos, e mais de 28% diz que é apenas um estado de espírito. Assim, as melhorias relativamente ao conhecimento sobre a doença na população parecem ser algumas, e campanhas como a “Depressão em rodeios” terão tido um papel muito importante, mas continua a ser fundamental falar sobre depressão, porque quanto mais se falar sobre o assunto, sobretudo se isso for feito de uma forma técnica e cientificamente correta, melhores serão os resultados a curto e médio prazo em termos de literacia populacional”.

No que respeita aos principais sintomas que associam a uma depressão, os portugueses entendem que são a tristeza (91,3%), a perda de autoestima/confiança ou sentimentos de culpa (89,6%), a falta de prazer e interesse (85,3%), a ansiedade (82,3%), o cansaço físico ou diminuição da energia (81,9%) e, os problemas cognitivos, como a falta de concentração, a dificuldade em planear, a indecisão, os lapsos de memória ou o raciocínio lento (76%). Para os inquiridos são os três primeiros sintomas referidos que identificam também como sendo os que têm mais impacto no quotidiano das pessoas com depressão.

Dados estes que Luísa Figueira, médica psiquiatra e professora catedrática de psiquiatria na Faculdade de Lisboa sublinha como sendo reveladores da perceção que os portugueses têm dos sintomas relacionados com a depressão: “Sendo correta a perceção dos portugueses sobre o impacto negativo da depressão sobre a vida profissional dos doentes (96,9% respondem afirmativamente), esta afirmação não é concordante com outras respostas dos inquiridos que acham que a dimensão cognitiva é pouco afetada pela depressão (7,4%) e ainda menos a dimensão profissional/financeira (4,7%). Neste aspeto particular será importante uma maior informação à população em geral, dado que efetivamente sintomas como a falta de concentração, a dificuldade em planear, a indecisão, os lapsos de memória ou o raciocínio lento são de facto condicionantes das dificuldades profissionais dos doentes com depressão. Os resultados aqui demonstram que este facto ainda não está claro para a maioria dos portugueses.”

Quando questionados sobre qual o principal fator de risco que aumenta a probabilidade de sofrer de Depressão, a maioria identifica as perdas ou traumas (86%), seguem-se outras doenças (43%) e a hereditariedade (29,9%).

O inquérito “a visão dos portugueses sobre a depressão” foi promovido pela Lundbeck Portugal e envolveu um total de 1.215 inquiridos, telefonicamente, entre os dias 27 de setembro e 3 de outubro de 2022. Todos os indivíduos inquiridos são maiores de idade e residem em território nacional. A margem de erro do estudo é de 2,81% para um intervalo de confiança de 95%.

Depressão

A depressão é um dos problemas de saúde mental mais comum, sendo que 1 em cada 4 pessoas vão sofrer de depressão em qualquer ponto das suas vidas. Afeta cerca de 350 milhões de pessoas no mundo, e Portugal destaca-se como um dos países da Europa com maior prevalência de doenças psiquiátricas: cerca de 700 mil pessoas vivem com sintomas depressivos.

Trata-se de uma doença com uma importante desregulação neuroquímica que resulta de fatores biológicos, e de stress ambiental, nomeadamente stress do dia-a-dia. Existe um grande leque de sintomas que variam no tipo, duração, número e gravidade, afetando cada pessoa de maneira diferente. Podem ocorrer com ou sem qualquer causa óbvia e, muitas vezes, sem que o doente de aperceba dos mesmos, até sentir que é um sofrimento que perdura e começa a ter impacto no seu quotidiano.

A prevalência depressão tem registado um crescimento contínuo nas últimas décadas, mas ainda é uma das doenças mais incompreendidas e estigmatizadas pela sociedade: amigos, familiares, meio laboral, sociedade no geral e, muitas vezes, pelo próprio doente.

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