58,4% dos doentes diagnosticados com VIH não levantaram a terapêutica antirretrovírica até aos 14 dias recomendados, conclui o estudo ‘Infeção por VIH – Do diagnóstico ao início da terapêutica antirretrovírica em Portugal’, realizado pelo Instituto de Saúde Ambiental, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, com o apoio técnico da Lean Health Portugal. Estes dados foram divulgados no âmbito do Dia Mundial de Luta Contra a Sida, que se assinala anualmente a 1 de dezembro.
De entre as principais conclusões, verificou-se entre 2017 e o 1.º trimestre de 2022 uma tendência para o aumento do número de doentes que iniciam a terapêutica dentro do tempo recomendado de 14 dias e uma tendência para a diminuição do número daqueles que iniciam após os 14 dias recomendados:
- 250 doentes (7,7%), maioritariamente provenientes do internamento hospitalar, levantaram a terapêutica em data anterior à data de realização da 1.ª consulta (não fazendo parte do número de doentes dentro do tempo recomendado, uma vez que o processo de obtenção da terapêutica não seguiu o fluxo desejado – consulta-prescrição-levantamento)
- 103 doentes (33,9%) levantaram a terapêutica dentro do tempo recomendado de 14 dias (no próprio dia ou até 14 dias depois da 1.ª consulta)
- 898 doentes (58,4%) levantaram a terapêutica depois dos 14 dias recomendados
- A variabilidade no tempo de acesso à terapêutica parece refletir fatores de natureza individual (como as condições clínica e psicossocial), de natureza técnica (como a evidência disponível e recomendações internacionais) e de natureza institucional (como o modelo de organização, recursos e procedimentos administrativos)
- Necessidade de avaliar o impacto da covid-19 no médio e longo prazo e para além da medida de tempo de acesso ao tratamento de novos casos de diagnóstico para a infeção por VIH
Na instituição hospitalar que obteve melhor desempenho, 65,8% dos doentes levantaram a terapêutica até aos 14 dias recomendados. Já na instituição com pior desempenho, 83,8% dos doentes levantaram após os 14 dias recomendados.
Considerando que o início imediato da terapêutica antirretrovírica nas pessoas com infeção por VIH leva à melhoria do prognóstico e à redução do risco de transmissão e desconhecendo-se, em Portugal, qual é o intervalo de tempo que decorre entre o diagnóstico e o início do tratamento, o Instituto de Saúde Ambiental, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, com o apoio técnico da Lean Health Portugal, publicaram um estudo, financiado pela Gilead Sciences, que envolveu cinco Hospitais de Referência para a infeção por VIH, abrangendo os anos de 2017 e 2018.[1]
Dada a relevância dos dados obtidos, foi projetado um novo estudo, envolvendo os Hospitais de Referência para a infeção por VIH de todo o País e incluindo, para além dos anos de 2017 e 2018, os anos de 2019 a 2021 e 2022 (1.º trimestre). Este estudo: “Infeção por VIH – do diagnóstico ao início da terapêutica antirretrovírica em Portugal”, foi agora concluído e divulgado.
O Estudo que envolveu 19 instituições hospitalares[2] de referência para a infeção por VIH e cinco Organizações de Doentes de base comunitária, permitiu conhecer o processo de referenciação e navegação, desde o diagnóstico da infeção por VIH até ao início do tratamento, para o intervalo de tempo entre o ano de 2017 e o 1.º trimestre de 2022.
Francisco Antunes, coordenador e coautor do estudo e professor jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa, explica que “este estudo demonstra que há uma percentagem apreciável das pessoas que vivem com VIH que, após o diagnóstico, não levantam a medicação no espaço temporal recomendado, o que pode ter reflexo no prognóstico e no risco de transmissão do vírus para parceiros sexuais. Urge, portanto, implementar medidas para mudar esta realidade, dado que a terapêutica atualmente disponível permite o início imediato do tratamento, logo após o diagnóstico, sem pôr em causa a sua a eficácia e segurança”.
O Estudo seguiu uma abordagem mista, combinando uma componente metodológica de naturezas quantitativa e qualitativa para o aprofundamento do conhecimento sobre barreiras e facilitadores no acesso ao tratamento, para novos casos de diagnóstico da infeção por VIH.
A Consulta a Tempo e Horas é a origem de referenciação mais frequente e não existem diferenças no intervalo de tempo máximo recomendado entre as diversas origens de referenciação.
[1] Nicolau V et al. HIV infection: Time from diagnosis to initiation of antiretroviral therapy in Portugal, a multicentric study. Healthcare 2021;9:797.
[2] 19 instituições participantes: C. H. do Tâmega e Sousa, Hospital Distrital de Santarém, C. H. Universitário do Porto, Hospital de Vila Franca de Xira, Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, C. H. Universitário de São João, C. H. do Barreiro Montijo, C. H. do Baixo Vouga, Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca, C. H. de Setúbal, C. H. Universitário Lisboa Norte, Hospital de Faro, Hospital Curry Cabral, Hospital de Portimão, Hospital Garcia de Orta, Hospital de São José, C. H. de Vila Nova de Gaia/Espinho, Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Hospital Santo António dos Capuchos.
COMUNICADO
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