“A forma como se conta a história da doença é muito importante, porque tem um efeito reparador, libertador”, salienta a coordenadora do Departamento da criança e do adolescente no Hospital Lusíadas Lisboa e elemento da Comissão Organizadora das II Jornadas de Medicina Narrativa em entrevista ao SaúdeOnline.

A escuta é fundamental na opinião de Margarida Lobo Antunes, nomeadamente num mundo tecnológico e onde as pessoas recorrem ao “Dr. Google”. “Os avanços tecnológicos são muito importantes, mas a tecnologia não consegue criar empatia, não demonstra compaixão, algo essencial na relação médico-doente.”

Continuando: “A Medicina Narrativa contribui para uma ligação próxima com o doente, trabalha a capacidade de nos relacionarmos empaticamente com a pessoa, de ouvir as suas histórias e compreender a sua linguagem única. Podemos ser tecnicamente brilhantes, mas só saberemos cuidar, se o fizermos com proximidade e individualidade.”

Para se avaliar o sofrimento, é preciso ter-se capacidades que vão além do conhecimento do curso de Medicina, na opinião da especialista. Considera assim que a Arte, nomeadamente a Literatura, vai permitir uma maior cultura geral e “uma maior sensibilidade para pequenas nuances do discurso do doente, compreendo melhor o doente no seu todo”.

E dá o exemplo de quem vai a uma consulta por causa de uma dor, mas que, através de um olhar atento ao seu rosto, se percebe que o principal sofrimento pode ser a tristeza pela morte de um ente querido. Saber, observar, falar e escutar é assim cada vez mais relevante, nomeadamente nas situações de maior sofrimento e vulnerabilidade como no momento da morte.

O objetivo do evento é explorar a importância das histórias e das diversas áreas das Humanidades, tendo em vista a prática de uma Medicina que além de garantir a saúde e a sobrevivência de cada doente, possa entender a sua história de vida como forma de conhecimento para promover o seu bem-estar.

No primeiro dia serão debatidos temas como o papel das histórias e das memórias, da música e do canto para o bem-estar e para a melhoria do estado de saúde do doente. Será dado destaque, ainda, à importância que a dignidade, o legado histórico e a compreensão das emoções representam para uma prestação mais flexível e criativa nos cuidados de saúde.

MJG