“Os dados que temos a nível mundial apontam para entre 290 mil a 650 mil mortes por ano causadas por gripe, portanto não são números menosprezáveis”, alerta Luís Rodrigues do Hospital Distrital de Santarém. E, apesar de a maioria da população recuperar facilmente desta infeção respiratória, podem surgir complicações que podem atingir vários órgãos e sistemas.

Exemplo disso são os quadros mistos, em que o doente começa por ter uma pneumonia viral, e depois desenvolve uma bacteriana. “Muitas vezes o doente já está a recuperar, mas acaba por piorar, sendo diagnosticada uma pneumonia bacteriana que está associada a elevada mortalidade.”

O surgimento de complicações num quadro gripal aumenta em grupos de risco, nomeadamente idosos e quem sofre de doenças crónicas, por a infeção contribuir para a descompensação das mesmas. É o cado da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), de patologia intersticial, da asma, entre outras do foro respiratório.

“Também é comum verificar-se um agravamento das doenças cardiovasculares – cardiopatia isquémica, insuficiência cardíaca – por causa do processo inflamatória desencadeado pelo vírus influenza”, acrescenta o médico.

Ainda no âmbito da Cardiologia, o pneumologista realça que existem estudos que apontam para um aumento de casos de enfarte agudo do miocárdio (EAM) em doentes com gripe. “Estamos a falar de uma incidência seis vezes superior ao normal, além disso, podem também surgir outras consequências como convulsões, encefalopatias e acidente vascular cerebral.”

Além dos idosos e de quem sofre de doenças crónicas, nomeadamente autoimunes, as grávidas são um grupo de risco. A vacinação é assim “essencial”, como faz questão de salientar. “A vacina da gripe é a principal medida de prevenção, sobretudo nos grupos de risco”, enfatiza. Acrescem cuidados que se tornaram comuns com a pandemia da covid-19, como a etiqueta respiratória e a higienização das mãos.

Além da população, Luís Rodrigues chama a atenção para os profissionais de saúde e todos aqueles que lidam diretamente com pessoas que estão em maior risco de vir a ter complicações com a gripe. “As vacinas são seguras e eficazes. A diminuição de casos graves vai ter repercussões nas urgências, no internamento, nos Cuidados Intensivos, até na taxa de mortalidade.”

No caso específico dos idosos, devido ao processo de imunosenescência, as vacinas tendem a ter uma eficácia menor. Contudo, “a vacina continua a ser a medida mais importante”. Questionado sobre a vacina de dose elevada administrada no ano passado aos idosos institucionalizados, considera que faz a diferença por ter uma carga antigénica maior. “Haveria benefício em ser administrada em todos os idosos com mais de 65 anos, há quem defenda que deve ser a partir dos 60.”

Mas, reforça, “o mais importante é mesmo a vacinação seja qual for a vacina”.

MJG

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