As injeções intravítreas reforçaram o leque de terapêuticas disponíveis nas últimas décadas, nomeadamente, os anticorpos monoclonais anti-VEGF e os implantes de cortisona. Graças a estes tratamentos administrados por injeção intraocular, é possível controlar o edema e manter (ou mesmo melhorar) a visão. Em particular, os implantes de cortisona permitem maior duração do controlo do edema macular, mas com o risco de hipertensão ocular, cataratas e complicações da técnica. Acresce ainda que nenhum tratamento é curativo, necessitando de retratamentos periódicos. Com isto em mente, têm sido investigadas múltiplas formas de potenciar a durabilidade das medicações intravítreas e diminuir os riscos, melhorando a qualidade de vida e o chamado burden terapêutico. Uma alternativa, em desenvolvimento, é a injeção de fármacos para o espaço supracoroideu. Este fica na própria parede do olho, entre a esclera – camada mais externa do olho; e a coróide – camada muito vascularizada que fica em contacto com a retina, contribuindo para a sua nutrição.

Esta técnica permite difusão progressiva para a região posterior do olho, sem ser necessária a invasão do interior do olho, com maior duração do efeito anti-inflamatório.

Em 2022, na Clínica Privada de Oftalmologia S.A. (CPO), fomos desafiados com um caso clínico pouco frequente. Uma doente com edema macular inflamatório grave, mas que apresentava uma lente intraocular implantada com uma técnica cirúrgica que contraindica a injeção intravítrea de implantes de cortisona, pelo risco de migração anterior dentro do olho e lesão da córnea. Foi tentado uso de cortisona por via oral e tópica, seguido de soluções injetáveis intravítreas, sem resultado. Sem alternativas, foi pensada uma opção “fora da caixa”. Administrar o implante de cortisona Ozurdex® por via supracoróideia sob anestesia local, de forma a conseguir os benefícios da potência e efeito prolongado deste medicamento, mas sem o risco de migração intraocular do implante. Realizou com sucesso dois implantes, o primeiro em setembro de 2022 e um segundo em fevereiro de 2023, estando há 6 meses sem edema macular e com a visão recuperada. O único constrangimento foi a duração adicional de alguns minutos para realizar a técnica cirúrgica.

Esta nova abordagem, o único caso clínico nacional de que temos conhecimento, permitiu resolver de forma segura o problema da nossa doente, ao mesmo tempo servindo de fundamento para mais investigação da via supracoroideia. O uso dos implantes de cortisona por esta via ainda carece de evidência científica, sendo assim off-label. Aguardaremos expectantes novos desenvolvimentos científicos que devolvam qualidade de vida a quem padece de edema macular!

Pedro Pereira Neves
Diretor clínico na Clínica Privada de Oftalmologia, S.A. (CPO)

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