O excesso de peso e a obesidade representam um grave problema de saúde pública, que afeta mais de metade da população mundial e que tem enormes implicações no aparecimento de diversas doenças crónicas, nomeadamente diabetes e doenças cérebro-cardiovasculares.

Numa sociedade cada vez mais industrializada e apressada, a alimentação é cada vez mais uma hora desvalorizada, onde muitas vezes o “comer alguma coisa” substitui uma das principais refeições.

O aumento de comidas já pré-cozinhas nos supermercados e as cadeias de restaurantes fast food têm tido um impacto negativo quer na saúde quer na dinâmica de muitas famílias portuguesas, pois o tempo de partilha e socialização à mesa passa a ser escasso.

Para melhor percebermos a concentração de açúcar presente em alimentos ingeridos com frequência por crianças, vamos analisar alguns deles, face aos valores estipulados pela Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável (EIPAS) nomeadamente cereais de pequeno-almoço, bolachas, gelados, produtos de pastelaria e iogurtes líquidos e sólidos.

No que respeita aos cereais de pequeno-almoço, em média estes apresentam 22g/100g sendo necessária uma redução média anual de 5,7g/100g para se enquadrarem dentro do que é esperado. Atualmente os únicos cereais e cumprirem os requisitos estabelecidos na EIPAS são os flocos de milho e integrais.

No que respeita aos iogurtes líquidos, nenhum cumpre os requisitos estabelecidos, pois em média possuem 12,0g/100g e 12,1g/100ml o que implica por parte da indústria uma redução de média anual de 2,3g/100g e 3,2g/100ml. De salientar que, nestes casos, já existe uma concentração de açúcar proveniente da lactose. Em relação aos iogurtes sólidos, atualmente 22 deles já cumprem os requisitos estabelecidos na EIPAS.

O reduzido número de cereais de pequeno-almoço e iogurtes com teor de açúcar inferior a 5g/100g (ou 2,5g/100ml, para os líquidos) evidencia a necessidade de se intervir junto dos operadores económicos e dos consumidores, pois o facto de serem alimentos frequentemente consumidos por crianças poderá levar ao surgimento de diversas problemáticas em idade precoce.

Como resultado de hábitos não saudáveis, associados ao consumo elevado de alimentos ultra processados, a redução de práticas de atividade física e a obesidade têm sido assuntos frequentes. A obesidade trata-se de uma doença crónica caracterizada pelo acumulo de gordura corporal, que pode levar a outras enfermidades, como é o caso da hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e cancro.

Quando falamos de obesidade na infância, as consequências podem ser para toda a vida, pois o peso elevado pode continuar durante a fase adulta. Segundo o Ministério da Saúde, crianças acima do peso possuem 75% mais hipóteses de se tornarem adolescentes obesos, enquanto que os adolescentes obesos têm 89% de hipóteses de serem adultos obesos.

Além das consequências para a saúde, uma criança com obesidade pode vir a sofrer com as práticas de bullying. As consequências disso podem ser muito graves quer durante a infância, quer na fase adulta, podendo levar a um desinteresse e abandono escolar, perturbações psicológicas e emocionais, depressão, compulsão alimentar, vícios do cigarro/álcool, bem como um efeito negativo no que respeita às relações sociais e profissionais.

Alguns estudos mais recentes sugerem também que o consumo excessivo de açúcar pode contribuir para o aumento da prevalência de PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção) na infância e adolescência. Esta é uma possibilidade preocupante, sobretudo quando a maior quantidade de açúcar consumida por estas crianças vem através de alimentos que diariamente ingerem, como sumos artificiais ou achocolatados e os refrigerantes consumidos em média duas a quatro vezes por semana. No seguimento destes estudos feitos, foram estabelecidas recomendações para prevenir o aparecimento da perturbação, como por exemplo a redução do consumo de gordura saturada, redução consumo de carnes, redução da adição de açúcar e inclusão de frutas e vegetais.

Em suma o consumo de açúcar e as suas consequências são nefastas quer para a saúde física, quer para a saúde mental de crianças, jovens e adultos, sendo necessária a adoção de medidas que promovam as boas práticas desde a infância à idade adulta.

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