A ideia que a sexualidade é fundamental na vida humana e que o orgasmo é considerado o ápice do prazer sexual, é, de certa forma, consensual. Porém, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a dificuldade em atingir o orgasmo não é um problema que afeta apenas as mulheres. A incapacidade persistente ou recorrente do homem ter orgasmo ainda é uma realidade pouco conhecida, embora afete uma percentagem significativa da população masculina.
Despertei-lhe o interesse com este tema? Então, deixe-me aguçar ainda mais a sua curiosidade! Não estou a falar da incapacidade do homem em ejacular, mas sim de ter orgasmo! Ou seja, embora muitas pessoas acreditem que o facto de um homem ejacular significa que teve orgasmo (ou se não ejaculou não teve orgasmo), isso não corresponde à verdade, pois ejaculação e orgasmo são dois fenómenos distintos, embora tendencialmente ocorram em simultâneo.
Por outras palavras, ejaculação é um processo físico que envolve a contração dos músculos ejaculatórios e a libertação de sémen pela uretra, enquanto orgasmo é uma resposta neurológica que envolve a libertação de neurotransmissores responsáveis por provocar uma intensa sensação de prazer que ocorre com a libertação da tensão sexual. Portanto, é possível um homem ejacular sem orgasmo, assim como experimentar orgasmo sem ejacular!
Ou seja, se tiver uma relação sexual com um homem que não ejaculou, mas lhe diz que teve orgasmo, é muito provável que sofra de anejaculação. Esta disfunção sexual é caracterizada pela incapacidade persistente ou recorrente de ejacular, mesmo que ocorra orgasmo. Nestas situações, o prazer e a sensação de orgasmo estão presentes, mas não existe emissão de esperma. Em muitos casos, esta condição não é motivo de grande preocupação para a generalidade dos homens, visto que o seu maior medo é precisamente que aconteça o oposto, ou seja ejacular mais rapidamente que o desejado. No entanto, torna-se um problema quando existe o desejo de parentalidade ou perante a insistência de um parceiro.
Já a incapacidade de ter orgasmo, também conhecida como anorgasmia, é uma condição onde existe dificuldade persistente ou recorrente em atingir o orgasmo, podendo ocorrer com a presença ou ausência de ejaculação. Além disso, não devemos confundir anorgasmia com disfunção erétil, visto que homens com esta disfunção sexual podem apresentar ereções normais e uma excitação sexual adequada.
Compreender o que pode impedir ou dificultar a capacidade de o homem atingir o orgasmo e/ou ejacular é essencial para tratar estas disfunções sexuais, e não há uma única resposta, visto que existem fatores psicológicos, orgânicos, iatrogénicos, relacionais e/ou mistos. Relativamente aos fatores psicológicos, destaca-se a ansiedade de desempenho, traumas do passado, acontecimentos de vida recentes ou stress. Quanto aos principais fatores orgânicos, surgem as cirurgias (tais como a prostectomia) e outras condições médicas como a diabetes mellitus, doenças neurológicas ou alterações hormonais. Os efeitos secundários de alguma medicação (tais como alguns antidepressivos) são apresentados como os principais fatores iatrogénicos. Finalmente, mas não menos importantes, são os fatores associados à qualidade das relações amorosas, tais como a falta de intimidade emocional ou conflitos não resolvidos.
Fica assim evidente que a anorgasmia e a anejaculação podem ter causas multifatoriais e, como tal, o seu tratamento deve ser ajustado. Nestes casos, a intervenção de vários profissionais de saúde com especialização em sexualidade humana é fundamental. A terapia sexual ou de casal pode ajudar a identificar os fatores predisponentes, precipitantes e de manutenção. No decorrer do processo terapêutico, procura-se que o homem (ou o casal, caso exista) aprenda a explorar novas formas de prazer, através de exercícios de psicoeducação, que visam aumentar a consciência sensorial e diminuir a ansiedade.
É fundamental entender que estas disfunções sexuais são mais frequentes do que se pensa e que podem afetar homens de todas as idades. Infelizmente, na nossa sociedade, ainda existe muito preconceito relativamente às dificuldades sexuais, principalmente quando estão ligados a causas psicológicas, levando a que muitos homens se sintam constrangidos ou envergonhados em procurar ajuda e acabem por sofrer isoladamente.
É evidente que as repercussões destas situações não afetam apenas o próprio indivíduo. Em muitos casos, são também fonte de sofrimento para a parceira que acaba direta ou indiretamente por ser afetada. Muitas vezes, são os parceiros que motivam e impulsionam o homem a procurar ajuda para estas disfunções sexuais.
No fundo, não devemos esquecer que sexualidade humana é um aspeto natural e saudável da vida e, como tal, é importante ultrapassar a culpa ou vergonha perante qualquer tipo de dificuldade na sexualidade e quebrar o tabu de procurar ajuda especializada.