No sentido de fazer face a uma série de reivindicações e necessidades que inclusive já tinha sentido na própria pele, Joana Oliveira decidiu criar a Associação Portuguesa para a Disfunção Pélvica e Incontinência (APDPI). De acordo com a presidente, e com o apoio de alguns profissionais de saúde, a APDPI pretende desmistificar este problema de saúde e ” incentivar a que todas as pessoas que percam urina, gases ou fezes procurem ajuda especializada”.
Além disso, a associação pretende “alertar a esfera política para os apoios na comparticipação de medicamentos e de todo o material de apoio de que os doentes necessitem”. “Também pretendemos que os decisores políticos olhem para a lei da incapacidade. Ao criar debate e quebrar este estigma associado à incontinência sabemos que seremos ouvidos e que a lei da incapacidade também será alterada, uma vez que já conta com muitos anos sem ser reavaliada”.
“Queremos contribuir para uma melhoria das condições de vida destes doentes para que voltem a ser integrados a nível social e comunitário.”
Joana Oliveira salienta ainda a importância de os profissionais de saúde estarem alerta perante esta patologia e as suas especificidades, seja de que tipo de incontinência se tratar, para que, depois, os doentes sejam encaminhados e recebam o tratamento adequado. “Estamos abertos a receber mensagens, dúvidas ou inquietações que possam surgir e queremos que todos aqueles que nos procurem se sintam seguros. Pretendemos combater a solidão que um problema destes acarreta”, afirma.
Outro dos pontos que a APDPI pretende trabalhar diz respeito à criação de uma equipa multidisciplinar nos principais centros de referência do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Quando um doente se dirige ao hospital público deve ter uma equipa que o aconselhe relativamente ao seu caso em específico”.
De acordo com Joana Oliveira, os profissionais de saúde que se juntaram à APDPI revelam que alguns dos doentes com incontinência que lhes chegam assumem já ter mencionado o seu problema de saúde aos médicos de família, que por vezes desvalorizavam as pequenas perdas de urina. “Esta situação nunca é normal. As perdas de urina, fezes e gases não são normais e devem ser vistas por uma equipa multidisciplinar e especializada. As pessoas devem ter conhecimento de todo o tipo de tratamento farmacológico, fisioterapêutico e cirúrgico e devem decidir, em consciência, o que se adequa melhor ao seu caso”.
Após o parto da sua filha mais nova, Joana Oliveira afirma ter desenvolvido sintomas de incontinência, mas por ser “uma condição difícil de aceitar” demorou cerca de seis meses até procurar ajuda médica. “No meio de tudo o que passei não quero que as pessoas com esta condição sofram ou passem pelo mesmo que eu”. “Decidi criar a APDPI com o objetivo de defender os direitos e os interesses dos doentes que se encontrem nesta condição”.
Estima-se que, em Portugal, mais de 600 mil pessoas sejam diagnosticadas com incontinência urinária, sendo que, desses, 10% acaba por desenvolver incontinência fecal. Cerca de 19% são mulheres em idade adulta que sofrem com dor pélvica.
CG
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