Entre 41 candidatos, ganhou a 5.ª edição do Prémio Faz Ciência. O que é que esta distinção representa para si?
Esta distinção representa muito para mim pessoalmente, assim como para a minha equipa de investigação, pois demonstra o reconhecimento, por parte do júri deste prémio, de que o nosso trabalho tem potencial para ser traduzido para a prática clínica na área da Oncologia.

O Prémio Faz Ciência distingue, anualmente, os melhores projetos de investigação translacional (que englobe investigação empírica e trabalho de campo), a nível nacional, em diversas áreas terapêuticas e, por isso, é uma honra juntar-me aos quatro investigadores que já tiveram este reconhecimento no passado por parte da Fundação Astrazeneca.

“O Prémio Faz Ciência distingue, anualmente, os melhores projetos de investigação translacional, a nível nacional, em diversas áreas terapêuticas. É uma honra juntar-me aos quatro investigadores que já tiveram este reconhecimento no passado”

Qual o objetivo do projeto “The impact of Triple Negative Breast Cancer secreted extracellular vesicles in bone premetastatic reprogramming”?
Pelo menos 40% das doentes com cancro da mama triplo negativo são diagnosticadas com metástases ósseas osteolíticas, que induzem dor, fraturas, compressão da espinal medula, bem como má qualidade de vida e prognóstico. Tem sido demonstrado que pequenas vesículas extracelulares secretadas por células tumorais desempenham um papel fundamental como mensageiros no estabelecimento de nichos pré-metastáticos, incluindo o osso. O objetivo deste projeto é estudar o impacto de determinadas proteínas, que já identificámos como sendo secretadas por células de cancro da mama triplo negativo, na reprogramação do tecido ósseo e na sua posterior metastização por células neoplásicas.

“O objetivo deste projeto é estudar o impacto de determinadas proteínas (..) na reprogramação do tecido ósseo e na sua posterior metastização por células neoplásicas”

Em que consiste?
Este projeto é suportado por dados preliminares do meu grupo que mostram que células neoplásicas com tropismo para o osso estão significativamente enriquecidas em duas proteínas, em comparação com as que têm tropismo para o cérebro ou para o pulmão. Curiosamente, a equipa de investigação do Prof. Hector Peinado (no CNIO, Espanha) mostrou recentemente que vesículas secretadas por células de melanoma, enriquecidas nestas mesmas proteínas, promovem a metastização dos gânglios linfáticos; isto levou-nos a propor, em colaboração com o grupo dele, se este mesmo mecanismo é também sequestrado de forma semelhante pelo cancro da mama triplo negativo para a metastização óssea.

Iremos, assim, avaliar se a exposição a vesículas secretadas por células de cancro da mama triplo negativo, enriquecidas para estas proteínas, têm impacto nos ossos, fazendo experiências in vitro e in vivo (em animais). Paralelamente, em colaboração também com o IPO do Porto, iremos ainda avaliar a expressão destas proteínas em tumores primários e metástases ósseas colhidos de doentes numa série restrospetiva.

Quais os resultados esperados?
Este projeto terá um impacto bastante considerável ao estabelecer um novo mecanismo usado pelos tumores de mama triplo negativos para promover a metastização óssea. Além disso, tem como foco um grande desafio clínico ainda por revelar, podendo assim identificar biomarcadores preditivos de metastização óssea.

Qual a data prevista para terminar o projeto?
O projeto foi desenhado para ser realizado em 2 anos, apesar de ser apenas uma estimativa. Dependendo dos resultados que vamos obtendo ao longo do projeto, poderá ser concluído antes ou mesmo levar mais alguns meses.

Projetos futuros?
As metástases são responsáveis ​​por mais de 90% das mortes por cancro. Compreender a biologia dos clones metastáticos resistentes à terapia é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes para melhorar a sobrevida dos doentes com cancro. O objetivo do meu grupo de investigação é estudar os mecanismos moleculares subjacentes à cascata metastática, tendo como foco a vantagem biológica das células neoplásicas, nomeadamente para a sua disseminação sistémica, resistência terapêutica e crescimento num microambiente distinto do local primário. Todos os projetos futuros que tenho se prendem com a produção de conhecimento neste contexto, para que se possam desenvolver novas armas terapêuticas que tenham como base este mesmo conhecimento e melhorar a prevenção e tratamento de mulheres com cancro da mama metastático.

“Compreender a biologia dos clones metastáticos resistentes à terapia é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes para melhorar a sobrevida dos doentes com cancro”

Sobre a Joana Paredes:
Joana Paredes é investigadora e líder do grupo Cancer Metastasis no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Atualmente, é presidente da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC), associação afiliada da EACR (European Association for Cancer Research).

Texto: Sílvia Malheiro

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