“Tenho reservas quanto à independência e autonomia da Medicina Geral e Familiar (MGF) nas ULS e receio que percam o que conquistaram ao longo dos anos.” As palavras são de Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos (OM), que, na sessão de abertura das Jornadas, se mostrou bastante crítico em relação à atual situação das unidades locais de saúde (ULS).
O responsável disse mesmo que se assiste “a uma enorme confusão e desorganização” nas ULS, o que também pode impactar a formação médica desta especialidade.
Como referiu: “Defendo a integração dos cuidados primários com os hospitalares, mas esta não deve ser uma fagocitose, ou seja, os CSP não têm que ser engolidos pelos hospitais. Temo muito pelo futuro da MGF, com o que acontece atualmente nas ULS.”
Alertou ainda para a diferenciação dos médicos de família e como estes não devem ser substituídos por outros profissionais. Na sua comunicação enalteceu também o papel da MGF no sistema de saúde, considerando que se trata, “provavelmente, da única especialidade que consegue dar uma plataforma humana à relação médico-doente” pela sua proximidade e continuidade.
No final, Carlos Cortes fez ainda referência a uma plataforma que está a ser criada para defesa dos cuidados de saúde primários (CSP) e da MGF. Trata-se de um trabalho conjunto entre a OM, o Colégio da Especialidade de MGF, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e a USF-AN.
Manuel Viana, Paulo Pessanha, Carlos Cortes, Catarina Araújo e Rui Costa (da esq.ª para a dt.ª)
MGF. “Não recebe o reconhecimento proporcional à sua importância”
Rui Costa, um dos presidentes das Jornadas, também criticou o facto de “a MGF enfrentar uma carga de trabalho elevada”. Na sua opinião, consultas frequentes, num limitado período, podem impactar a qualidade dos cuidados e diminuir a satisfação dos utentes. “A falta de recursos humanos, materiais e financeiros são um desafio significativo. Investimento e remunerações adequadas são necessárias para garantir o crescimento, a eficiência e a eficácia dos cuidados de MGF e a satisfação de quem trabalha nesta área.”
Defendeu assim que “a valorização profissional é determinante para atrair e manter médicos qualificados nesta especialidade”, que, “muitas vezes, não recebe o reconhecimento proporcional à sua importância”.
Como lembrou, a MGF tem um “papel fundamental e vital” em vários domínios: assistenciais, promoção da saúde, prevenção da doença, vacinação, gestão das doenças crónicas, integração e coordenação dos cuidados numa “harmoniosa” interligação com outras especialidades.
Relativamente ao evento, que é da “MGF para a MGF”, realçou que o seu objetivo é ser “uma ação de educação e de formação médica diversificada, relevante, dinâmica e interativa”. “Que sejam um marco e uma referência educacional para a criação de valor médico acrescido e para a melhoria da prestação de cuidados de saúde à população”, acrescentou.
Este ano, o evento, em modelo híbrido, conta com mais de 2400 participantes, o que para os responsáveis é “um reflexo de um compromisso e responsabilidade inabaláveis” da organização.
Na sessão de abertura participou ainda Catarina Araújo, em representação da Câmara Municipal do Porto, assim como Manuel Viana e Paulo Pessanha, ambos presidentes das Jornadas, juntamente com Rui Costa.
MJG
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