A maioria das mulheres tem pelo menos uma infeção vaginal ao longo da sua vida, sendo a candidíase a segunda vulvovaginite mais frequente. A candidíase vulvovaginal trata-se de uma infeção fúngica provocada em 90% dos casos por uma infeção por Candida albicans, sendo que os restantes 10% poderão ocorrer por outras espécies de Candida sp.

Ao longo da sua vida, 70-75% das mulheres terão pelo menos um episódio de candidíase, 40-45% terão dois ou mais episódios e 10-20% serão portadoras assintomáticas, sendo frequente na gravidez (até 40%) e rara após a menopausa.

Existem diversos fatores de risco conhecidos: gravidez, obesidade, diabetes, imunossupressão, elevação de estrogénios, antibioterapia, corticoterapia, assim como utilização de pensos higiénicos diários e roupa justa.

Apesar de não se considerar uma doença sexualmente transmissível, sabemos que cerca de 10% dos parceiros sexuais poderão manifestar sintomatologia genital simultaneamente.

A clínica manifesta-se pela presença de corrimento vaginal branco, grumoso, espesso, inodoro, aderente às paredes vaginais, provocando eritema, edema e fissuras vulvares. A mulher queixa-se de ardor, prurido vulvovaginal e dispareunia.

O diagnóstico da candidíase é clínico, sendo a confirmação laboratorial (com zaragatoa vaginal) opcional, mas recomendada, principalmente nos casos de candidíase recorrente (>4 episódios/ano), dada a associação destes à candidíase não-albicans, que exige um tratamento diferenciado.

O tratamento está indicado apenas em mulheres sintomáticas e parceiros sexuais sintomáticos. Os esquemas de tratamento oral e intravaginal demonstraram igual eficácia quer na erradicação quer no alívio sintomático.

Na candidíase não complicada – esporádica, ligeira a moderada, provável infeção por C.albicans e em mulheres imunocompetentes – o tratamento recomendado são antifúngicos, orais ou tópicos. É importante alertar para a diminuição da eficácia do preservativo no uso de tratamento tópico.

O tratamento é intensificado nos casos de candidíase complicada – recorrente, severa, por espécies não C.albicans, em casos de imunossupressão ou diabetes.

Na gravidez deve-se privilegiar o tratamento tópico, uma vez que o tratamento com antifúngico oral deve ser evitado. É importante reforçar medidas preventivas como uso preferencial de roupa larga e de algodão, evitar duches vaginais ou produtos de higienização íntima que alterem a flora vaginal habitual. Compete também ao médico de família um bom controlo dos fatores de risco já descritos.

Dava a prevalência e intensidade das queixas, a candidíase é um motivo frequente de consulta nos cuidados de saúde primários, sendo imprescindível para o médico de família o reconhecimento desta entidade para diagnóstico atempado e tratamento adequado, minimizando ao máximo o impacto que esta doença pode ter nas nossas utentes.