Com uma tradição de 28 anos, as jornadas deste ano apresentam-se com uma nova designação “Cardio Santarém 2023”. Como é que surgiu a ideia de alterar o nome do evento?
Realmente, o nome foi sempre “Jornadas de Cardiologia de Santarém”. No entanto, este ano, por uma questão de marketing, com o intuito de tornarmos o nome mais atrativo, sobretudo porque temos muitas reuniões semelhantes, resolvemos mudar-lhes o nome para “Cardio Santarém 2023”. Ou seja, em 2023, a Cardiologia de Santarém está a conversar com os seus colegas. Sentimos que este nome é mais atrativo e motivador para os profissionais de saúde.

À semelhança dos anos anteriores, o evento pretende juntar as especialidades de Cardiologia, Medicina Geral e Familiar (MGF), Medicina Interna e, este ano, também, Cirurgia Vascular. Qual a importância da multidisciplinaridade no que respeita ao tratamento do doente com patologia cardíaca?
O doente é um contínuo, ou seja, a patologia cardíaca, muitas vezes, complementa-se com uma cirurgia a nível de outros “territórios”, como por exemplo os vasos, nomeadamente a aorta e os vasos periféricos, que também vão ter aterosclerose. Existem outras especialidades que tratam essas patologias, como por exemplo o aneurisma da aorta. Vamos falar desta patologia, porque a Cirurgia Vascular permite-nos dar aos nossos doentes um tratamento complementar daquele que damos a nível cardiológico. Pensámos que seria interessante estarmos todos na mesma reunião.

De qualquer forma, há 28 anos que se reúnem com a MGF e com a Medicina Interna. Qual a importância destas três especialidades se reunirem?
O hospital não funciona isoladamente. Os doentes são seguidos no centro de saúde, pelo médico de MGF. Porém, quando há alguma suspeita ou problema cardíaco de gravidade moderada ou elevada, são encaminhados para os cardiologistas. Daí a importância de se falar, todos os anos, com os clínicos gerais, de forma a transmitirmos o que há de novo sobre a abordagem ao doente cardíaco, falando da terapêutica, do diagnóstico, dos exames complementares, entre outros.

Ou seja, o que se pode fazer de melhor, a cada um dos anos, para o doente cardíaco. Por um lado, isto permite que os médicos de MGF tratem melhor os seus doentes, porque têm mais conhecimento atualizado. Por outro, também é bom para a Cardiologia, porque os doentes vêm mais bem estudados e só nos chegam os que têm mesmo patologia do foro da Cardiologia.

“O hospital não funciona isoladamente. Os doentes são seguidos no centro de saúde,
pelo médico de MGF”

Como é a ligação do Serviço de Cardiologia do Hospital Distrital de Santarém e os cuidados de saúde primários no seguimento dos doentes?
É muito boa. Neste momento, não temos atraso nas listas de espera para consulta com pedidos no centro de saúde. O tempo de espera é de cerca de um mês e meio, portanto, atualmente, as ligações estão muito oleadas e penso que corre tudo muito bem.

Efetivamente, em outros hospitais do país há um tempo de espera elevado, mas nós cumprimos os estipulados pelo Ministério da Saúde. Portanto, neste momento, é de cerca de um mês e meio, para o doente que precisa de cuidados de Cardiologia. Existem outros que não precisam destes cuidados, mas que são referenciados. Esses doentes não vêm para a nossa consulta porque não necessitam, e isso é explicado aos médicos de família quando fazem o pedido.

Mas, de modo geral, todo o doente grave, que tem uma patologia ou uma suspeita e que tem de ser tratado de um modo mais concreto pela especialidade, é referenciado e é visto. Corre muito bem neste momento.

Considera que a referenciação é feita atempadamente ou ainda há arestas a limar nesse sentido?
A referenciação é feita sempre atempadamente, se o doente tiver o seu médico de família. Neste momento, o problema é que nem todas as pessoas têm médico de família, ou seja, pode haver doentes que, efetivamente, tenham problemas e que não estão a ser seguidos pela Cardiologia.

Atualmente, os médicos de família, sobretudo os mais novos, são muito bons, estão bem preparados, sabem o que está em causa e enviam os doentes muito mais cedo do que há, por exemplo, 20 anos. A situação é bastante diferente.

“Os médicos de família, sobretudo os mais novos, são muito bons, estão bem preparados, sabem o que está em causa e enviam os doentes muito mais cedo do que há, por exemplo, 20 anos”

Qual o critério para a escolha dos temas a abordar este ano?
É muito abrangente. Por um lado, temos um pré-curso, no dia 22 de setembro, em que, efetivamente, vamos falar sobre a referenciação à consulta hospitalar, ou seja, de patologias como insuficiência cardíaca, valvulopatias, sincope, arritmias e doença coronária, assim como da forma como devemos investir nestes doentes quando há suspeita destas patologias.

No dia 23, vamos falar sobre temas diversos, como prevenção, que é talvez das temáticas mais importantes. Temos de prevenir as patologias, por isso vamos falar sobre suplementos, sal, tabagismo, entre outros.

Depois vamos focar assuntos como miocardiopatias, falar sobre a abordagem no contexto dos cuidados primários e o que é que o médico de família pode fazer e, depois, nos centros terciários, os hospitais.

Vamos falar também sobre tecnologias na Cardiologia, ou seja, sobre o que temos atualmente disponível a nível digital. E ainda sobre outros assuntos, como por exemplo, exercício físico, uma vez que, hoje em dia, toda a gente pode fazer exercício físico, mesmo que tenha um problema cardíaco.

Pretendemos falar em mitos e esclarecer dúvidas. Vamos falar sobre arritmias, insuficiência cardíaca, novidades e indicações para 2023. Vamos tentar fazer uma abordagem prática sobre o que foi mais importante no último ano e que está diferente em relação aos anteriores.

Vai haver uma reflexão sobre o que mudará na prática clínica, tendo por base os últimos estudos publicados. No seu entender, o que é que vai mudar?
São pormenores muito interessantes. Atualmente, temos determinado tipo de terapêuticas que sabemos que temos de prescrever mais cedo, dou-lhe o exemplo das terapêuticas para a diabetes, que também são importantes para o coração.

Mas, há muitos outros pormenores, que vêm de reuniões científicas deste ano e do ano passado, e que nos permitem otimizar o tratamento do doente cardíaco. É sobre isso que queremos conversar.

Quais as suas expectativas para estas jornadas?
Acredito que vão correr bem. A adesão por parte da MGF e, também, da Medicina Interna tem sido muito boa.

Sobretudo, tentamos dar conhecimento às pessoas que estão em formação. Há muitos internos da especialidade que estão nos centros de saúde e nos hospitais e esta é, também, uma forma de formação para estes profissionais mais novos, que são quem nos vai tratar mais tarde.

SM

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