Com o uso crescente de operações para tratar a obesidade grave, o termo cirurgia bariátrica entrou no léxico comum. Mas, atualmente, ouvimos muito falar de cirurgia metabólica e, todas as semanas, vários doentes me perguntam se a cirurgia que lhes proponho é que é A cirurgia metabólica!
A cirurgia metabólica é composta por um conjunto de cirurgias com capacidade para alterar o metabolismo e controlar a obesidade. A cirurgia bariátrica (cirurgia para controlo do peso) era, classicamente, dividida em três categorias: as cirurgias restritivas, as cirurgias mal absortivas e as cirurgias mistas. Nas primeiras, o mecanismo de ação era a restrição à capacidade de ingerir alimentos. Nas segundas, o mecanismo de ação era pela incapacidade de o intestino delgado absorver corretamente os alimentos. E nas últimas, ambos os mecanismos eram importantes.
No entanto, com o avolumar do conhecimento sobre os mecanismos de ação das cirurgias, percebemos que todas elas têm algum grau de restrição e todas induzem também uma diminuição da absorção pelo intestino. Mas, ao mesmo tempo, compreendemos que não são esses os mecanismos fundamentais para o sucesso do tratamento.
Alguns meses após a cirurgia, os doentes conseguem fazer uma alimentação com volumes próximos dos pré-operatórios. No entanto, se dermos a mesma quantidade de alimentos a pessoas após uma cirurgia, ou que não foram operadas, as primeiras perdem peso, mas as segundas não…
Da mesma forma, a capacidade de absorver hidratos de carbono, gorduras e proteínas, apesar de limitada após uma derivação do intestino, é suficiente para absorver a quantidade de calorias de uma refeição “normal”.
Assim, comprova-se que o mecanismo de ação mais importante da cirurgia é a regulação do metabolismo; daí o nome correto destas intervenções ser: cirurgia metabólica!
O conjunto de alterações anatómicas e fisiológicas induzidas pela cirurgia resulta numa diminuição do apetite, num aumento da saciedade e numa regulação do metabolismo individual. A pedra de toque das cirurgias metabólicas é o facto de permitirem uma alimentação mais saudável (em menor volume e escolhas mais saudáveis), de forma natural.
O eixo de sinalização intestino-cérebro é modificado, de forma que o cérebro do indivíduo (onde se dá a regulação do metabolismo e do comportamento alimentar) interprete que está num estado de excesso energético, apesar de, na realidade, o consumo ter sido muito reduzido.
Os indivíduos comem porções mais pequenas, não só porque o “espaço” disponível é mais pequeno, mas porque o “estímulo” da fome é mais reduzido. E “absorvem” menos calorias, porque o intestino interpreta que a refeição foi muito abundante (e, portanto, não “precisa” de absorver tudo), quando na realidade o aporte é mais reduzido. É este balanço entre a fome, a saciedade e o equilíbrio energético que resulta na perda de peso.
Do controlo do peso (cirurgia bariátrica), o foco tem-se alterado para a regulação do metabolismo e para o tratamento da obesidade e das doenças associadas. Muito mais do que controlar o peso, a cirurgia metabólica permite viver mais tempo, com menos doença e com melhor qualidade de vida!
Gil é Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano – ULSM e Grupo Trofa Saúde e Professor da FMUP
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