O debate sobre um tema considerado urgente para a profissão da Medicina Veterinária reuniu especialistas de várias áreas, com o propósito de promover a saúde mental e a partilha de conhecimento de forma a contribuir para a prevenção de problemas, tais como burnout, depressão e ansiedade. Recorde-se que em Portugal a profissão apresenta níveis de stress e burnout dos mais elevados, quando comparada com outras profissões e países da Europa.
Na parte da manhã, Manuela Peixoto, psicóloga, apresentou o estudo sobre a saúde mental nos Médicos Veterinários. Realizado no âmbito da sua apresentação “Burnout e Fadiga por Compaixão na área da veterinária” e “Bem-estar psicológico na comunidade veterinária”, o estudo, realizado entre o final de 2022 e março de 2023, junto de 833 profissionais da comunidade veterinária, incluiu médicos veterinários, enfermeiros veterinários e auxiliares. Entre as principais conclusões destaque para os elevados níveis de burnout e estados vulneráveis depressivos. Numa profissão com a maior taxa de suicídio, os resultados revelaram que 29 dos inquiridos tentaram pelo menos uma vez o suicídio, 13 desejavam morrer, 124 ameaçaram pelo menos, uma vez, que se iriam suicidar. Entre os principais fatores de risco destacam-se o excesso de horas de trabalho semanais (superiores às 40 horas/semana), problemas anteriores de saúde mental, ou discordância em relação à eutanásia.
A privação de sono da comunidade médico veterinária foi também um dos temas em destaque durante a conferência. Hugo Lopes, médico veterinário, salientou na sua apresentação que “os veterinários não andam a dormir, mas deviam!”, e que os problemas e as doenças associadas à privação de sono contribuem para diminuir a produtividade, e elevar os custos associados e de turnover. Apresentou ainda estratégias para minimizar o impacto dos turnos noturnos na saúde dos profissionais de saúde e melhorar o bem-estar dos médicos veterinários, relacionadas, por exemplo, com a alimentação e pausas no trabalho e chamou a atenção para o funcionamento dos hospitais veterinários frequentemente em incumprimento com a legislação laboral.
A tarde foi marcada pelo debate sobre o tema “Saúde Mental em Medicina Veterinária em Portugal” que contou com a participação de Sónia Miranda, vice-presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV).
O debate contou ainda com as presenças de Hugo Lopes, do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários (SNMV) e Mafalda Gonçalves, da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC) que apresentaram as estratégias que estão a ser criadas pelas respetivas instituições para ajudar os profissionais de saúde animal.
Sónia Miranda, vice-presidente do Conselho Diretivo da OMV, destacou a criação do gabinete de apoio individual aos médicos veterinários, um programa estruturado para promover o bem-estar e prevenir situações de stress, ansiedade e burnout, comuns na atividade da Medicina Veterinária, “ajudando a criar estratégias de gestão do tempo da vida profissional e pessoal”.
O tema da empregabilidade, um dos fatores diretamente associados à saúde mental, esteve igualmente em debate. “Aumentar a retaguarda que todos os profissionais devem ter no seu dia-a-dia, para um trabalho de mais qualidade e reconhecido pela sociedade, com uma legislação adequada à realidade e articulação com a Academia, fazem parte da solução”, referiu Sónia Miranda.
Concluiu-se ainda que, apesar do elevado número de médicos veterinários que estão a ser formados nas Universidades, o mercado depara-se com uma enorme falta de médicos veterinários, especialmente no interior do país e em pequenas clínicas, o que leva a aumentar o número de horas de trabalho dos profissionais em exercício, com impacto na sua saúde mental.