Qual a prevalência da DDA no adulto?
A prevalência de doença displásica da anca ( DDA) nos recém-nascidos é estimada em valores tão baixos como 1/1000 a valores tão altos como 34/1000. É muito claro nos dias de hoje a importância do conhecimento dos fatores de risco, do rastreio e diagnóstico precoce da DDA nos recém-nascidos. Isto permite uma atitude preventiva e terapêutica, seja conservadora ou cirurgia, numa fase muito precoce, ou seja na infância, onde os resultados são bastante satisfatórios. Tudo isto está muito evoluído e é do conhecimento e prática dos cuidados de saúde primários, dos obstetras, pediatras e, claro, dos ortopedistas. A Ortopedia Infantil está desde há algumas décadas muito evoluída nesta patologia.
A DDA no adulto jovem pode ocorrer num contexto de um paciente com história de DDA na infância, o qual sabendo da sua “ patologia” e eventuais sequelas, continua a ser seguido na vida adulta. Outro contexto é aquele paciente que, sem ter história conhecida na infância, surge nesta fase da sua vida e ao ter queixas ou realizar um exame se confronta com este diagnóstico. É difícil conhecer a prevalência desta patologia. Ela varia de região para região, de país para país, tendo em conta fatores genéticos, cuidados de saúde, hábitos de vida. No entanto realço um trabalho, feito numa população chinesa, com uma amostra de cerca de 30.000 indivíduos de 18 anos de idade, na qual se encontra uma prevalência de DDA ( Ângulo CEA <20º) de 1,5% (1), com alguma variação ente sexo, algumas regiões, ambiente rural ou citadino. Temos cerca de 1 000 000 de jovens entre os 15 e 24 anos (último Censos). Se extrapolar, com todas as reticências pelo facto de ser uma população diferente, podemos ter um valor de 15.000 indivíduos com ancas displásicas neste grupo etário. Não sabemos claramente o valor, mas é mais frequente do que esperamos.
De que forma se poder melhorar o diagnóstico atempado?
O mais importante é termos consciência da patologia, da sua importância e da sua frequência. Esta consciência pode ajudar a um diagnóstico atempado e, consequentemente, a uma orientação adequada. Ao contrário dos recém-nascidos, onde o rastreio de todos é fundamental, no adulto, acima de tudo, temos que ter a consciência e o conhecimento da patologia, para realizar o diagnóstico e a orientação adequados.
Quais são os tratamentos mais adequados nas diferentes idades?
A orientação e tratamento vai ser discutida neste Webinar. Excluímos as crianças, que pertencem ao âmbito da Ortopedia Infantil; com atitudes e procedimentos muito próprios para estas idades. No outro extremo temos as pessoas mais idosas, ou aquelas que mesmo sendo mais jovens, têm uma articulação mais destruída. Nestes casos, o tratamento passa pela substituição da anca, pela realização de artroplastia total da anca. O tratamento tem particularidades e dificuldades de acordo com o grau de dismorfia e gravidade da displasia. Nos mais jovens, assintomáticos, o tratamento passa sobretudo por algumas orientações de estilo de vida, de medidas preventivas, de tonificação muscular. Muitos deste pacientes jovens iniciam sintomatologia e aqui as cirurgias preservadoras podem ter um lugar muito importante no tratamento e na prevenção da evolução artrósica, em particular as osteotomias de reorientação acetabular ( PAO).
Nem sempre se dá o devido acompanhamento na idade adulta. Porquê e quais a consequências para o doente?
O seguimento menos adequado destes pacientes é causa de perda de qualidade de vida, muitas vezes de muito sofrimento e vidas muito limitadas. O facto de um paciente conhecer a sua patologia, saber adequar o seu estilo de vida, realizar atividades de lazer e desporto adequadas é por si um fator importante na qualidade de vida e no futuro destas articulações. Perante o paciente sintomático, jovem, sem alterações degenerativas relevantes, podemos estar na janela de oportunidade para as cirurgias preservadoras. O conhecimento da patologia e destes tratamentos é fundamental para que esta janela não seja perdida. Podemos melhorar muito a qualidade de vida destes pacientes e prolongar a boa função desta articulação. Perante os casos mais graves de displasia, ancas mais artríticas – mesmo em indivíduos mais jovens -, não podemos esquecer a cirurgia de substituição, que com os novos materiais e com uma boa técnica cirúrgica podem permitir uma recuperação de funcionalidade e qualidade de vida fantástica a muitos destes pacientes
Texto: Maria João Garcia
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