Quais são as práticas de saúde centradas no cidadão mais importantes de manter ou implementar?
A principal mensagem foi que, para a saúde estar centrada no cidadão, é importante que as pessoas estejam envolvidas nas tomadas de decisão. Nesse sentido, o outro exemplo destacado foi a decisão da entrada dos fármacos no mercado, envolvendo também os doentes nesta própria decisão.

Todas as decisões que são tomadas devem ser centradas no doente, que deve também ser incluído nas mesmas. Durante o Fórum foram mencionados alguns exemplos que já se sucederam, nomeadamente a questão da dispensa em proximidade, que acaba por ser um serviço que foi pensado mais até do ponto de vista do cidadão, que muitas vezes tem de se deslocar ao hospital para levantar a medicação. A dispensa em proximidade acaba por ser útil, uma vez que o utente só vai ao hospital quando tem consultas marcadas e ainda assim recebe a medicação necessária.

Um dos aspetos que foi retido no sentido da reforma do SNS foi a própria reorganização que os hospitais estão a sofrer, ou seja, a ligação entre os cuidados de saúde primários e os hospitais nas Unidades Locais de Saúde (ULS). Este novo conceito centra mais as políticas de saúde nos cidadãos, ou seja, toda a jornada do doente acaba por estar interligada: os cuidados de saúde primários numa perspetiva de entrada no sistema, e depois o hospital com as suas especialidades, no sentido de se iniciar o tratamento.

Os principais motivos que incentivaram a realização deste Fórum estão muito relacionados com toda esta reforma de que o sistema de saúde está a ser alvo, mas também a questão dos recursos humanos, do financiamento e da falta de sustentabilidade. Existem vários fóruns individuais onde, por exemplo, os farmacêuticos se juntam a discutir temas de saúde, mas achámos que seria interessante e benéfico juntar todos os profissionais de saúde.

Além disso, pretendemos também transmitir um exemplo, ou seja, juntarmos todos de forma simbólica e assinar um memorando de entendimento entre jovens profissionais de saúde, criando um caminho pelo exemplo e mostrando que queremos colaborar juntos, fazendo parte de uma solução global.

“Os problemas já estão identificados, falta identificar as soluções, e foi esse o nosso compromisso, no sentido de refletirmos e, posteriormente, reunirmos com os principais stakeholders.”

Qual é a missão da plataforma de jovens profissionais de saúde?
Era já uma intenção da APJF incluir esta estrutura por ser algo que fazia sentido. De forma informal, já íamos conversando principalmente com os jovens médicos e com os jovens dentistas, já existia uma aproximação, mas foi no ano passado que decidimos dar início a esta estrutura.

Realizámos algumas reuniões onde criámos um memorando de entendimento, que depois acabou por ser assinado no Fórum da APJF. Assim sendo, as estruturas que estão presentes são a Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF) e a Associação de Jovens Médicos (AJOMED), duas estruturas independentes das respetivas Ordens.

Além disso, temos três estruturas que estão inseridas na Ordem, mas dizem respeito a Conselhos Jovens. São eles o Conselho dos Jovens Médicos Dentistas, o Gabinete Jovem da Ordem dos Médicos Veterinários e também a Comissão de Jovens Nutricionistas.

Não esquecendo um conceito que tem sido muito badalado, que diz respeito à one health, e daí termos incluído também a Medicina Veterinária, porque apesar de ser diferente a nível estatutário, estes são também considerados profissionais que acreditamos desempenharem um impacto muito direto na Saúde Pública, que acaba por ser um dos nossos eixos estratégicos.

Atualmente, somos cinco, mas existem ainda mais duas áreas que gostávamos de incluir: a Enfermagem e a Fisioterapia. Contudo, estas estruturas não existem nem de forma independente, como é o caso dos Médicos e dos Farmacêuticos, nem dentro da própria Ordem. Por esse motivo, encontramo-nos a estudar a melhor forma de poder obter a representatividade destas duas áreas.

No que diz respeito às principais missões desta plataforma de jovens profissionais de saúde, acaba por ser muito no sentido de promover o conceito de colaboração e cooperação transdisciplinar. Se nos permitem, acreditamos que é importante dar o exemplo aos mais velhos, que é importante haver esta colaboração entre os diferentes profissionais de saúde. Como é óbvio, cada um tem as suas valências, mas acreditamos que é através da colaboração que poderá ser mais fácil atingir melhores resultados em saúde.

“O objetivo é apresentar uma plataforma de colaboração e de cooperação de forma a criar sinergias que tragam melhores resultados em saúde.”

Que desafios pode a intercolaboração entre profissionais de saúde combater?
O principal desafio que tem sido muito falado no que diz respeito à atualidade em saúde é a questão da falta de recursos humanos. São muitos os profissionais a optar por ingressar através do privado, ou até mesmo por ir trabalhar para o estrangeiro.

Acreditamos que, havendo esta colaboração entre os diferentes profissionais de saúde, não só acaba por haver uma redistribuição e quase que um apoio mútuo, tendo em conta as diferentes valências dos farmacêuticos, dos enfermeiros, dos médicos, de existir uma colaboração, como acaba até por consistir em motivação, no sentido de que todos temos a mesma missão. Entendendo este último ponto, garantir a saúde da população que nos rodeia acaba por ser o maior fator de motivação. Assim, esta colaboração acaba por, de alguma forma, colmatar a questão dos recursos humanos.

A intercolaboração entre profissionais pode ainda apoiar a questão das carreias no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Alguns dos profissionais de saúde já contam com carreiras no SNS, como é o caso dos farmacêuticos e dos médicos. Outros não têm carreira, como é o caso, por exemplo, dos dentistas. Acreditamos que o facto de nos juntarmos para refletir os desafios individuais de cada profissão faz com que consigamos criar soluções conjuntas capazes de dar resposta ao SNS, tanto na sua totalidade, como também partindo do ponto de compreender o modo como podemos incentivar os jovens a quererem trabalhar para o SNS e, acima de tudo, a quererem permanecer em Portugal.

CG

Notícia relacionada

“Vemos com apreensão a aprovação à pressa das Unidades Locais de Saúde sem um real envolvimento das equipas”