“Deve-se mudar o paradigma da gestão em saúde, não nos focando tanto na prevenção da doença, mas mais na promoção em saúde”, defende Pedro Melo. O candidato a diretor-geral considera que, desde a sua criação, a DGS se tem centrado numa visão, essencialmente, biomédica, o que é não é suficiente. “Esta também é importante, obviamente, mas é essencial que a DGS seja mais multidisciplinar, devendo-se contratar mais pessoas de áreas diferentes”, argumenta.
Inerente a esta questão está a comunicação em saúde. No seu entender, é preciso mudar a forma como se transmitem mensagens à população. “Portugal , e a DGS em particular, tem tido uma comunicação muito top-down, ou seja, diz-se às pessoas o que devem fazer, quase como uma prescrição, que não pode ser contrariada”, critica. Apesar de reconhecer que existem situações complexas que exigem essa forma de comunicar, essa não pode ser a abordagem padrão. Para exemplificar, lembra o período da pandemia, em que a população mais facilmente associava as medidas a sanções do que a melhoria da saúde. “Penso que não houve melhores resultados nalgumas situações, porque a comunicação não empoderou as pessoas.”
Pedro Melo quer, contudo, deixar claro que também não é um adepto da chamada comunicação bottom-up. “Não podemos ser extremistas, é preciso existir um equilíbrio, para que se deixe de ver a saúde como apenas a ausência de doença.” Na sua perspetiva, esta mudança de paradigma vai permitir evitar a iliteracia em saúde, que leva à tomada de decisões prejudiciais ao bem-estar dos cidadãos. “Sou investigador nesta área e existem muitos estudos que mostram que investir na promoção da saúde traz um retorno muito grande para o país a médio prazo.” E a prática no terreno, como enfermeiro, corrobora o que diz a literatura. “O enfermeiro especialista em Saúde Comunitária e Saúde Pública tem uma abordagem mais orientada para as pessoas e para os processos de vida do que para a doença.”
Como exemplifica: “Tem-se em conta várias variáveis, como as crenças que contribuem para a adoção de hábitos menos saudáveis, as condições habitacionais, a falta de literacia, etc.” O candidato admite que “não é fácil mudar o paradigma, mas também acha que “não é impossível”.
A DGS e … a Política
Relativamente à DGS, afirma que a instituição está “num momento de potencial transição”. Questionado sobre a possível criação de uma agência para a promoção da saúde, defendida por Manuel Pizarro antes de ser Ministro da Saúde, diz que “ a DGS não é substituível”. “Uma Direção-Geral é diferente de uma Agência, porque a primeira permite uma gestão mais sistémica da saúde.”
Todavia, acrescenta, “a DGS tem sido demasiado politizada e isso não é bom para a gestão da saúde da população”. Na sua opinião, é um organismo “demasiado orientado para os atributos políticos de quem está a governar o país”. Esta realidade contribui para que seja “refém” das políticas de saúde e, até do Ministério das Finanças, impedindo o diretor-geral da saúde de contra-argumentar em vários casos. “Por tudo isto, a DGS tem sido muito mais reativa que proativa.”
Caso venha a suceder Graças Freitas, Pedro Melo pensa ainda em pedir uma “análise profunda” da DGS, do ponto de vista financeiro, para se perceber o que é prioritário e o que poderá dar realmente retorno.
Texto: Maria João Garcia
Saiba o que pensam os candidatos no Especial DGS do SaúdeOnline:
Rui Portugal. “A DGS tem que “regressar à sua matriz de independência técnico-normativa”
Carla Araújo. “Pretendo criar pontes, apostando no diálogo”
João Vieira Martins. “A DGS precisa de mais profissionais diferenciados”