“Os doentes têm receio de falar destas doenças”, por este motivo, o SaúdeOnline esteve à conversa com Ana Maria Oliveira, que até poucos dias antes da data desta entrevista era a única especialista de Gastrenterologia a fazer esta consulta no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) .
“A Consulta de Proctologia do HFF foi criada logo desde o início da instituição, em 1995, e, embora as pessoas não se queixem muito, por ser uma área do corpo um pouco íntima, as necessidades são muitas”, afirma Ana Maria Oliveira.
E acrescenta: “Faço uma média de 800 consultas ano, mas a lista de espera é muito grande. Agora com a chegada de mais uma especialista, vamos conseguir dar uma resposta mais célere aos doentes.”
Efetivamente, trata-se de uma área da Gastrenterologia, que, apesar dos tabus que ainda se verificam na nossa sociedade, tem cada vez mais procura.
Doenças mais frequentes
As patologias mais frequentes da consulta são, segundo Ana Maria Oliveira, a doença hemorroidária; as fissuras anais; as doenças sexualmente transmissíveis (como por exemplo, a gonorreia, clamídia e vírus do papiloma humano); as dermatites perianais; a incontinência fecal; e a obstipação.
De acordo com a especialista, os fatores de risco para este tipo de patologias são vários. No caso das doenças sexualmente transmissíveis passa, sobretudo, pelos comportamentos sexuais de risco, enquanto que para a doença hemorroidária, a obstipação e a diarreia, o excesso de peso/obesidade e a gravidez são frequentemente implicados.
Quando questionada acerca das formas de referenciação dos doentes, Ana Maria Oliveira diz que o encaminhamento pode ser variado: Medicina Geral e Familiar, serviço de urgência, outras especialidades médicas, e também, outros hospitais.
Tratamento
“Na própria consulta de Proctologia podemos fazer logo o tratamento mais adequado se considerarmos que existe essa indicação, como é exemplo o caso da terapêutica instrumental na doença hemorroidária”, refere Ana Maria Oliveira.
Frequentemente, o tratamento dos doentes exige uma abordagem multidisciplinar, entre Gastrenterologia, Cirurgia Geral, Medicina Física e Reabilitação e Urologia.
Ao ser questionada se o tratamento destas patologias é iniciado precoce e atempadamente, Ana Maria Oliveira responde que, na sua maioria, “infelizmente, não tem sido possível por falta de recursos humanos”. “Fazemos uma triagem aos doentes referenciados, para percebermos quais são os prioritários. Contudo, os tempos de espera para a consulta excedem muito o tempo desejável. Agora, com a nova colega recém-especialista, esperamos conseguir dar uma resposta em tempo útil”, afirma a gastrenterologista.
Contudo, refere que o grande problema para um início tardio do tratamento destes doentes são os tabus que ainda existem em torno destas patologias: “Os doentes têm receio de falar destes problemas e, muitas vezes, quando se queixam aos médicos de família ou aos colegas das outras especialidades trata-se de uma situação que já vem de longa data.”
Segundo Ana Maria Oliveira, para combater esta situação é preciso ser feito um trabalho no sentido de “desmitificar estas patologias”, fazendo uma maior divulgação das mesmas junto da população. “A doença anorretal é muito frequente, não há que ter receio de falar”, observa.
Além disso, a Consulta de Proctologia do HFF tem também organizado formações para abordar estes temas, nomeadamente entre gastrenterologistas e médicos de Medicina Geral e Familiar.
Texto: Sílvia Malheiro
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