“Não temos dados suficientes, mas, muito provavelmente, a solidão é uma epidemia com impacto forte na saúde.” As palavras são de José Ricardo Jauregui, presidente da Secção Clínica da International Association of Geriatrics and Gerontology (IAGG).

Em declarações ao SaúdeOnline, o responsável realçou algumas variáveis que contribuem para o que se denomina síndrome geriátrica da solidão. São diversas, tais como as sociodemográficas, o estado de saúde e a autonomia, as psicológicas e de personalidade, as sociais e culturais. “As mulheres são mais afetadas do que os homens, porque tendem a viver mais anos; outro risco, por exemplo, é ser-se solteiro por não haver uma companhia ou viver-se acompanhado, com quem não se consegue comunicar bem.”

Todos estes aspetos afetam diretamente a saúde e o bem-estar dos idosos, contribuindo, como sublinha, para “uma maior deterioração da saúde mental, aumentando mesmo o risco de suicídio”.

Outras patologias associadas são as doenças cardiovasculares e a hipertensão, por exemplo. “É preciso apostar em estudos nesta área para se conhecer o real impacto deste fenómeno complexo, que é a solidão, para que sejam tomadas medidas concretas.”

Continuando: “A mudança tem de envolver inevitavelmente a Educação, ou seja, é preciso começar logo na infância a saber que a vida tem um ciclo e que se deve preparar o envelhecimento.”

José Ricardo Jauregui foi um dos oradores, hoje, no primeiro dia do workshop, em cuja sessão de abertura se contou com a presença do Ministro da Saúde e com uma mensagem em vídeo do Presidente da República.

Manuel Pizarro frisou o facto de a solidão e todos os problemas que a envolvem acabarem por ser resultado do “sucesso” das políticas de saúde e sociais. Alertou, assim, para a importância de “todos juntos” refletirem sobre esta realidade, que afeta vários países. “A solidão tem efeitos dramáticos, quer na saúde mental, como a nível biológico, logo isto exige uma ação coletiva”, reiterou.

Acrescentou ainda que, mesmo com medidas governamentais e das instituições, é preciso apostar em estilos de vida saudáveis e meios tão simples como estimular a socialização.

Marcelo Rebelo de Sousa, por sua vez, também mencionou o impacto deste problema na saúde da população mais idosa e como é “fundamental” investir em medidas que a combatam. “A existência de uma rede social robusta pode ajudar, contribuindo para um envelhecimento mais saudável e feliz.”

Também presente esteve Manuel Carrageta, presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia (SPGG). O cardiologista, que se dedica à Geriatria, alertou que “as consequências nocivas da solidão têm sido comparadas a fumar até dez cigarros por dia e os seus riscos são superiores à obesidade e inatividade física”. Alguns dados, segundo o especialista, apontam para “uma mortalidade à volta dos 60% em sete anos”.

Face ao exposto, o especialista anunciou que as conclusões do workshop serão publicadas na IAGG e na SPGG. Pediu ainda ações de combate à solidão, incluindo a criação de planos de ação nacionais.

Na sessão de abertura esteve ainda Stella Bettencourt da Câmara, a coordenadora do workshop, assim como o presidente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), Ricardo Ramos Pinto, onde decorre o evento.

MJG

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