Através do recurso a um cenário de realidade virtual, a investigação testou se o acréscimo da vigilância e a aquisição sensorial desencadeada pela exposição a sinais químicos de medo (nomeadamente através de suor axilar recolhido de participantes numa condição de medo), melhorava ou não a deteção de acontecimentos inesperados, reduzindo o impacto do fenómeno da cegueira por desatenção, que se traduz, por vezes, na incapacidade humana de detetar estímulos visuais óbvios, mas inesperados.
As conclusões do estudo permitiram perceber que a exposição a sinais químicos de medo, comparada à exposição a odores corporais recolhidos numa condição de repouso, aumenta a atenção dos participantes, fazendo com que o impacto da cegueira por desatenção diminua.
Os resultados permitem, agora, abrir caminho a investigações com uma várias implicações práticas significativas para os indivíduos envolvidos em tarefas que exigem níveis elevados de vigilância contínua, tais como o controlo do tráfego aéreo, a condução ou a revisão de exames médicos.
“Suponhamos que o aumento da deteção de acontecimentos potencialmente inesperados é de cerca de 10% com a exposição a sinais químicos de medo, em contextos da vida real. Isto reduziria substancialmente o impacto da cegueira por desatenção, evitando potenciais erros que, de outra forma, poderiam levar à perda de vidas humanas ou danos materiais”, explica Gün R. Semin.
O estudo contou com a participação de 256 estudantes do ISPA-Instituto Universitário, com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos, onde 131 foram expostos aos sinais químico de medo, enquanto 125 participaram na condição controlo, envolvendo a exposição a um odor corporal recolhido numa condição de repouso.
A investigação teve como base um cenário em realidade virtual que simulava um aquário, onde foi pedido aos participantes que contassem quantos pedaços de comida um cardume de peixes consumia enquanto dois estímulos inesperados passavam por trás do cardume, neste caso, um golfinho e um tubarão.
Os investigadores do Ispa previram que os participantes expostos a sinais químicos de medo (N=131) detetariam estímulos inesperados com uma frequência significativamente maior do que os expostos a odores corporais de repouso (N=125). “Os resultados confirmaram a nossa hipótese, revelando que a exposição a sinais químicos de medo aumentou significativamente a deteção dos estímulos inesperados em cerca de 10%. As implicações dos nossos resultados abrem caminho para investigação aplicada com vista a reduzir as consequências adversas causadas pela cegueira por desatenção”, explica Semin.
Quando sentem medo, os indivíduos tendem a contrair o músculo medial frontalis (localizado na testa), resultando na expansão das aberturas oculares e nasais. Por sua vez, isto leva a um aumento do campo visual, facilita os movimentos oculares e resulta em volumes mais elevados de entrada de ar. É habitualmente referido como um estado de aquisição sensorial aumentada, que se supõe ter evoluído para melhorar o processamento do ambiente circundante com a função de evitar potenciais estímulos perigosos.
A investigação sobre os efeitos dos sinais químicos do medo sugere que a exposição a estes resulta também na contração do músculo medial frontalis, aumentando também a aquisição sensorial dos recetores.
CG/COMUNICADO
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