A Hipertensão Arterial (HTA) mantém-se como o principal fator de risco modificável cardiovascular. Para um correto diagnóstico e gestão adequada, é crucial a obtenção de valores de medição precisos e confiáveis de modo a evitar o diagnóstico inadequado ou a adequação correta da terapêutica. Tem a dificuldade de variar ao longo do dia, com o estado emocional, o esforço, o clima, etc., o que dificulta a obtenção de um valor adequado para orientação. A melhor solução hoje em dia passa por obter valores medidos fora do consultório em diferentes momentos do dia.
A metodologia mais comumente usada para medir a pressão arterial (PA) é a medição de consultório, hoje realizada recorrendo a aparelhos automáticos que se baseiam num método chamado oscilométrico: o aparelho deteta as oscilações à volta de uma pressão média e com apoio de algoritmos, calcula a Sistólica (máxima) e a Diastólica (mínima). São necessários vários cuidados como algum repouso, bom posicionamento e colocação de um manguito adequado. Além disto os aparelhos devem ser validados para que os valores sejam credíveis. Valores médios iguais ou acima de 140/90 mmHg são considerados HTA. Contudo, quer em casa ou no consultório, por vezes tiram-se apenas medições isoladas e sem os cuidados adequados levando à obtenção de valores pouco fiáveis.
Hoje os doentes devem ser empoderados com uma nova ferramenta que substitui (para melhor) estas medições isoladas – a AMPA – a Automedição da Pressão Arterial. Esta é uma ferramenta bastante útil na gestão de um doente hipertenso ou suspeito de hipertensão. Ao fazer em casa medições repetidas de manhã e à noite, em duplicado e durante 7 dias consecutivos (o protocolo deve ser ensinado) obtém-se uma média que é valiosa para decidir o diagnóstico ou perceber o controlo tensional – o valor de pressão arterial ≥135/85 mmHg remete para descontrolo. Este método dá um poder enorme ao doente que passa a controlar a sua doença. Apesar de um investimento inicial da equipa de saúde na capacitação do doente e necessidade da aquisição/empréstimo de equipamento, o retorno é valioso: maior conhecimento do seu perfil, melhor adesão à terapêutica e tendencialmente melhor controlo da HTA. Estes valores podem ser obtidos a cada 3 ou 6 meses e partilhados com o médico assistente.
Por vezes é necessário conhecer o perfil da tensão durante a noite e retirar dúvidas sobre os valores obtidos. Assim existe um exame validado a que os clínicos recorrem: a MAPA 24H – Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial. O doente anda com um aparelho específico durante cerca de 24h e este deteta o perfil noturno e ajuda a perceber o impacto da medicação no tratamento. Tem ainda a virtude de ser realizado no ambiente do próprio doente e, portanto, conferir uma imagem mais aproximada do perfil real do doente. Os valores de referência a ter em conta são também específicos e devem ser interpretados com ajuda da sua equipa médica. Faz-se notar que, a MAPA de 24h é um exame validado ao contrário da MAPA de 48h que, apesar de conferir um maior número de medições, não está validado para usar na prática clínica.
Atravessamos uma fase de inovação com a emergência de dispositivos de tensão arterial que funcionam sem manguito usando parâmetros ligados ao estado dos vasos do doente. Além de proporcionar a obtenção de enormes quantidades de informação por apresentar medições contínuas, é através de pequenos dispositivos como relógios que terá acesso a um perfil tensional com muitas medições e, possivelmente, sobreponível ao perfil tensional real. Estes dados apesar de serem muito relevantes ainda carecem de validação pelo que, os resultados destes dispositivos ainda não devem ser integrados na prática clínica atual mas podem perfeitamente servir de rastreio.
Em conclusão, as medições fora do consultório e regulares são hoje melhores para gerir a HTA. Fale com o seu médico assistente para lhe dar apoio nesta mudança e garanta que tem o controlo da Hipertensão nas suas mãos.
Lima Nogueira,
Médico emergencista do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga (CHEDV)
Diretor Clínico – M&L CLINIC
Notícia relacionada
Novos alvos-terapêuticos para a hipertensão levam a intervenções mais personalizadas