“Ir ao ginecologista com regularidade permite o diagnóstico precoce de um cancro ginecológico, como o do ovário, que afeta sobretudo mulheres entre os 50 e os 70 anos (frequentemente após a menopausa), mas que é detetado cada vez mais em idades mais precoces.” O apelo é de Teresa Santos, consultora científica do Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos (MOG).
De acordo com um estudo da MOG, a maioria das mulheres não vai ao ginecologista pelo menos uma vez por ano. “É preciso criar este hábito desde que se tem a primeira menstruação, porque, em caso de cancro, pode evitar-se um prognóstico pior.”
Teresa Santos salienta, em entrevista ao SaúdeOnline, que “o cancro do ovário é a quinta causa de morte por doença oncológica entre as mulheres, sendo o cancro ginecológico com maior taxa de mortalidade”. Apesar de não existir um registo nacional, a estimativa, segundo o Movimento, é que “mais de 8 em cada 10 casos são descobertos (82%) numa fase avançada, quando o prognóstico é mais reservado, uma vez que já apresenta metástases para outros órgãos”.
O alerta não se cinge somente a este tipo de cancro, mas a outros como vulva, vagina, endométrio ou colo do útero “Existe pouca literacia, é preciso falar sobre estes temas, porque, como acontece com o do ovário, as fases iniciais podem ser assintomáticas.” No caso do cancro do colo do útero, o MOG lembra que a vacinação é “muito importante”, podendo contribuir, inclusive, para a sua “erradicação”, e que já é já gratuita para raparigas e rapazes.
Apostar na educação para a saúde é assim um dos principais objetivos do MOG que surgiu, em 2019, por “não existir uma associação dedicada a este tipo de cancros”. Mas não querem ficar por aí. “Queremos ser a voz ativa das doentes e dos seus familiares, porque a doença oncológica não tem um impacto apenas individual, mas também familiar, social, profissional.”
Apesar de ser um movimento com poucos anos, disponibilizam apoio psicológico, ações de entretenimento e informação à população. Querem também chegar aos profissionais de saúde, para que estes possam ser “embaixadores do MOG” e aos políticos. Neste último caso, destaca-se a petição “Nenhuma mulher portuguesa com cancro do ovário deixada”, que reuniu quase 16 mil assinaturas e que já foi submetida ao Parlamento. O objetivo é exigir que o Infarmed aprove fármacos inovadores para o cancro do ovário, que podem alterar o diagnóstico. A MOG foi inclusive recebida pela Comissão de Saúde da Assembleia da República e a petição será discutida em plenário na próxima sessão legislativa.
“Até há pouco tempo, Portugal era dos únicos países da Europa sem uma alternativa de tratamento de manutenção em primeira linha para o cancro do ovário, financiada e disponível no Serviço Nacional de Saúde. Neste momento, já existe essa opção, mas apenas para doentes com mutação BRCA, que correspondem apenas a 10-15% do total de diagnóstico, após teste genético. ”Uma situação que, no entender do MOG, “não é democrática”.
MJG
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