Com a comunicação “LASER, EBD (energy based devices) e dispositivos drug delivery”, Leonor Girão, dermatologista da Clínica Dermatológica do Areeiro, em Lisboa, e secretária-geral do Grupo Português Dermatologia Cosmética e Estética, tem como objetivo demonstrar que a utilização de vários equipamentos da prática diária dos dermatologistas permitem ultrapassar a barreira cutânea e permitir que diferentes substâncias ativas possam ser utilizadas de outra forma e de maneira mais eficaz. “Tanto na área terapêutica pura e dura (clínica), nomeadamente para tratamento de doenças cutâneas, como ao nível da área estética, estas técnicas são muito úteis. Por exemplo, podemos utilizar antifúngicos tópicos no prato ungueal após laser fracionado ablativo, permitindo a sua eficácia, ou utilizar diversas substâncias antioxidantes como a Vit C ou o retinol imediatamente após laser fracionados (ablativos ou não), microagulhamento, ou Radiofrequência micoagulhada”, observa.

Para contextualizar, Leonor Girão refere que a pele é um órgão fantástico que nos protege do meio ambiente e de vários tipos de agressões. O que pode ser bom e mau, uma vez que os dermatologistas trabalham com muitos cremes e produtos tópicos de aplicação e o órgão pele faz uma “barreira extraordinária” a esses elementos, o que diminui e torna mais difícil a ação e a eficácia dos medicamentos tópicos ou cosmecêuticos.

“É um sistema de defesa, mas que nos pode dificultar a ação de algumas terapêuticas. Porém, com as diferentes tecnologias que temos ao nosso dispor, temos a possibilidade de fazer com que esses medicamentos tópicos e alguns cosmecêuticos, possam atuar de uma forma mais eficiente, sem ter efeitos sistémicos e metabolização hepática”, explica Leonor Girão.

E exemplifica: “É o que acontece com alguns equipamentos, nomeadamente vários tipos de lasers, por exemplo os lasers fracionados, que fazem pequenos orifícios a nível da pele, de forma controlada. Portanto, permitem-nos ir à profundidade de micras com muita precisão e ultrapassar a barreira da epiderme, ou seja, a nossa camada córnea, que dificulta a absorção de substâncias.”

Ao utilizarem estes equipamentos os dermatologistas estão, segundo Leonor Girão, “a permitir que uma substância que poderá ficar à superfície e não ter ação, possa ser absorvida e ter efeito terapêutico. São muitas os medicamentos que podem ser utilizados desta forma: corticoides, 5FU, ALA, amorolfina, ciclopiroxolamina, ácido azelaico, arbutina, ácido tranexâmico, anestésicos tópicos, vários antioxidantes (vit C, Vit E, vit A, ácido ferúlico), vários produtos de peeling (‘pixel peel’), etc.”.

Contudo, existem outros tipos de equipamentos que, mesmo sem fazer orifícios, por exemplo o próprio laser não ablativo e a radiofrequência convencional, também podem, através da energia depositada na pele, alterar a barreira cutânea (pelo calor, por colunas de coagulação dérmica), permitindo que algumas destas substâncias sejam absorvidas ao aumentar a vasodilatação dérmica ou a carga eléctrica das células.

Leonor Girão observa ainda que, com o evoluir do tempo, até mesmo outros equipamentos mais simples – como o microneedling e a radiofrequência com microagulhas – nos permitem otimizar a aplicação de princípios ativos.

“É fundamental, no entanto, lembrar que os produtos a aplicar devem ter sido fabricados com essa intenção, isto é, sem alérgenos ou preservativos passíveis de induzir alergias (caso dos tópicos – em geral são produtos para mesoterapia) ou passíveis de uso sistémico sem problemas”, conclui.

Qual a importância de se realizar um simpósio do Grupo Português Dermatologia Cosmética e Estética e de se abordarem estas temáticas na Reunião da Primavera?

Leonor Girão – A nossa imagem tem vindo a tornar-se cada vez mais importante. Concordando ou não, todos sabemos que, na sociedade atual, a nossa imagem diz muito sobre nós e tem influência, tanto em termos das relações de trabalho, como da projeção da própria pessoa. A procura por técnicas ou procedimentos estéticos tem aumentado muitíssimo.

A Dermatologia é a especialidade, por excelência, dedicada à pele e os dermatologistas os especialistas e os profissionais mais qualificados para tratar a pele em caso de patologia e para saber como reage e como a modificar e melhorar, sem induzir doença.

Faz todo o sentido, numa reunião de Dermatologia, darmos as ferramentas aos nossos colegas, no que respeita à vertente da estética, como complemento dos seus tratamentos nas diferentes patologias. Dermatologia Clínica e Dermatologia Estética não se excluem, complementam-se.


SO

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