Portugal lidera a lista de países europeus com a menor utilização de apps de rastreamento de contactos durante a pandemia de covid-19. De acordo com o estudo “Contact Tracing Apps durante a pandemia”, dos investigadores Eduardo Costa e Pedro Pita Barros, “mais de 50% dos portugueses nunca instalou a app StayawayCOVID”. Acresce ainda o facto de, em janeiro de 2021, 60% dos utilizadores já a tinham inclusive desinstalado.
O trabalho, realizado no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE, revela ainda que “a fraca relevância e utilidade” destas apps esteve diretamente relacionada com 3 fatores. São estes a capacidade tecnológica da própria aplicação (requisitos técnicos elevados e necessidade de intervenção ativa dos doentes na introdução de códigos do SNS); a adesão individual de cada cidadão (preocupações de partilha de dados pessoais, literacia digital e perceção da sua utilidade); e a capacidade de se atingir uma escala mínima para gerar um efeito rede.
Neste último caso, em Portugal, a baixa adesão individual traduziu-se na incapacidade de atingir a escala mínima para o eficaz funcionamento da aplicação, tendo-se registado 3 milhões de instalações e apenas 2708 códigos facultados pelo SNS.
Analisando a sua utilização, constata-se que a maioria da população optou por não instalar ou desconhecia a existência da mesma. E os números variam, de forma significativa entre países, como é exemplo Portugal, com 8% de adesão, e a Alemanha que chegou aos 32%.
Estas diferenças são justificadas, segundo os investigadores, por fatores culturais, variações nas funcionalidades das apps e riscos associados à falta de privacidade. Além disso, contou também a idade, sendo que, neste caso, os mais novos tinham maior propensão para instalar a app. Entre os mais velhos que aceitaram aderir a esta ferramenta digital, notou-se um uso mais frequente dos mais novos, na medida que também tinham maior risco de doença grave e de mortalidade. A escolaridade e nível de rendimento foram ainda identificadas como condicionantes com uma utilização superior junto das classes socioeconómicas mais favorecidas, tipicamente com níveis de escolaridade e de rendimento superiores.
Os dados recolhidos permitem ainda aferir diferenças entre os cidadãos vacinados e não vacinados. “Menos de metade da população vacinada reportou não ter a aplicação instalada, enquanto no grupo da população não vacinada este indicador atinge os 80%.” Para os autores, este facto mostra “o trade-off de custo-benefício na utilização da aplicação que sinaliza, no grupo dos não vacinados, preocupações com intrusão, falta de segurança de dados pessoais e ainda uma baixa perceção de risco de contágio”.
Por último, as dinâmicas familiares condicionaram também os níveis de utilização, sendo maiores entre agregados familiares com membros de risco elevado.
Segundo os investigadores “a eventual necessidade de utilização deste tipo de mecanismos no futuro terá de ser acompanhada de intervenções específicas junto dos grupos da população com maior resistência”. Como acrescentam: “O equilíbrio entre os custos e os benefícios é determinante para induzir a adoção individual que, por sua vez, é condição necessária para que se atinja um efeito rede, obtido através de uma escala mínima – sem a qual a aplicação não tem utilidade relevante’.”
Texto: Maria João Garcia
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