Vivemos e assistimos a exemplos cataclísmicos de respostas do ambiente e do clima um pouco por todo o planeta e em todas as latitudes. E com maior ou menor rigor científico, ou mesmo sem nenhum conhecimento sólido sobre o tema, ninguém fica indiferente ao que, ocorrendo diariamente, se vai espalhando e observando pelos diversos meios de comunicação social.
Claro que, para além da realidade, como em tudo e sempre, nos deparamos com cenas, atitudes e comportamentos de indivíduos que me abstenho de qualificar e que incluem os autores de atentados perpetrados por indivíduos de todas as idades e géneros, os quais desprovidos de educação e de valores, se arrogam ao direito de estragar, danificar, lesar ou agredir coisas e pessoas.
Olhando para a História, a grande mestra, com o aparecimento e desenvolvimento da chamada era industrial entenderemos como os problemas da acumulação de detritos vários e muitos, e sobretudo as formas de poluição do ar, da terra e das águas, se foram avolumando.
A toxicidade tornou-se um problema major, porque passou a atingir a saúde do homem, a saúde de toda a população, também pelo fenómeno de uma urbanização acelerada e desregrada. E depois, o impacto no clima agudizou e exponenciou a tragédia, lançando-nos num ciclo perverso e quiçá irreversível.
Por volta do início da década de 50, no século passado e após o final da 2ª Guerra Mundial, Londres atingia valores de dióxido de enxofre mais de 50 vezes superior aos registados no final do século XX!
Esta emissão para a atmosfera está directamente associada às chuvas ácidas, outro vector da tragédia que nos ameaça e que deteriora o meio ambiente de múltiplas formas e vias, como alterações na reprodução e crescimento das plantas, no equilíbrio ácido e no pH da água dos rios, e por essa capacidade interfere com as espécies piscícolas, ou pelas suas propriedades corrosivas que atacam materiais e estruturas…
A Medicina do Ambiente é a área do conhecimento médico que estuda, analisa e avalia os fenómenos e os meios através dos quais os determinantes e agentes, naturais ou criados pela Humanidade, no respectivo meio ambiente, impactam e influenciam a saúde humana.
Sem isso, não vai ser possível desenhar medidas preventivas capazes nem encontrar respostas como, por exemplo, John Snow, em 1855 e de novo em Londres, suspeitou e definiu a relação entre a cólera e a água não potável.
Naturalmente conhecemos que seres vivos complexos como os humanos estão dotados muitas vezes de alguma dose de resistência e de prevenção que nos retarda, protege ou minimiza do atingimento pelas substâncias perigosas das células e órgãos-alvo. Mas a importância de conhecer as quantidades desses compostos no ambiente não chega se não for acompanhada pela informação sobre a dose de efeito. São todos estes dados e medições que carecem de interpretação médica ou de enquadramento e orientação face ao problema das exposições de longa duração, em particular quando pensamos em produtos ou substâncias ou riscos cancerígenos.
É por isso que a Medicina do Ambiente se projecta como a especialidade médica do Futuro, um futuro que já está aí e que se cruza, claramente, muito para além do mero estudo da toxicologia, com outros ramos fundamentais como a epidemiologia, a biologia, a climatologia ou a determinação dos riscos e das suas naturezas.
Mas para os médicos vai ser essencial, para uma actuação ética e responsável, estar atento e saber ser crítico sobre muitas das informações e notícias, falsas ou autênticas, que ligam ao ambiente uma boa parte da nossa ignorância ou temor.
Não é fácil e não será mais fácil identificar ou reconhecer, no mínimo, sintomas, queixas ou patologia atribuíveis ao ambiente e às suas alterações. E menos, saber responder ao que pacientes, cuidadores e familiares questionem em torno das suas dúvidas ou receios.
A melhor indicação será, consistente e gradualmente, procurar entender esse binómio, em que já assentamos a saúde do ser humano e o seu relacionamento com o meio ambiente.
O autor escreve de acordo com o A.A.O.
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