A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é um distúrbio neurocomportamental caracterizado por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere com o funcionamento ou desenvolvimento.
A prevalência mundial de PHDA em crianças e adolescentes é de 5 a 7%, afetando aproximadamente 6% das crianças em idade escolar, 3% dos adolescentes e 2,5% dos adultos, tendo repercussões cognitivas, comportamentais e socio emocionais significativas.
Os sintomas chave desta patologia são:
- Hiperatividade (irrequietude difícil de controlar);
- Impulsividade (dificuldade em esperar pela sua vez, em controlar/inibir a resposta, em planear);
- Desatenção (dificuldade em iniciar/manter/completar tarefas, tendência à desorganização).
Vários dos sintomas surgem antes dos 12 anos, em pelo menos dois contextos, e estão presentes há mais de 6 meses. Existem 3 apresentações distintas de PHDA, consoante o tipo de sintomas mais acentuados: Tipo predominantemente Desatento, Tipo predominantemente Hiperativo/Impulsivo e Tipo misto.
A PHDA é mais prevalente no sexo masculino, sendo esta disparidade mais acentuada na PHDA do tipo predominantemente hiperativo/impulsivo. De notar que a PHDA é mais comummente subdiagnosticada no sexo feminino. Este facto tem sido associado ao facto de, por regra, na população feminina a patologia manifestar-se com um menor grau de hiperatividade e com menos comportamentos agressivos. Contudo, estudos apontam para uma maior impulsividade nesta população, bem como mais sinais neurológicos.
Os sinais podem ser mínimos ou estar ausentes em alguns contextos, por exemplo perante recompensas frequentes para comportamentos apropriados, se supervisão próxima, num contexto de novidade, em atividades especialmente interessantes, entre outros. Por outro lado, situações não estruturadas agravam os sintomas.
Os sintomas manifestados variam ao longo da vida. A impulsividade e a desatenção mantêm-se ao longo da adolescência, enquanto que a hiperatividade tende a diminuir.
A PHDA é uma doença crónica que persiste na idade adulta em mais de 50% dos casos. A sua etiologia é multifatorial, contribuindo quer fatores genéticos quer fatores ambientais. Ter um familiar de 1.º grau com a patologia aumenta o risco da doença em 8 vezes.
O diagnóstico é clínico, baseando-se na entrevista semiestruturada e em observações da criança ou adolescente, sendo fundamental recolher informação de múltiplas fontes. É difícil realizar um diagnóstico fidedigno em crianças em idade pré-escolar. É importante realizar um correto diagnóstico diferencial, com outras patologias do neurodesenvolvimento, com outras patologias psiquiátricas (perturbações de ansiedade, depressivas, do comportamento, etc.) e com outras condições, nomeadamente efeitos secundários de fármacos, alterações da função tiroideia, défices da acuidade auditiva ou visual, dificuldades do processamento sensorial, entre outras.
Em 60-70% dos casos estão presentes comorbilidades, nomeadamente perturbação desafiante de oposição e/ou outras perturbações do comportamento, perturbações de ansiedade, perturbações depressivas, dificuldades de aprendizagem, perturbação da linguagem e perturbação do uso de substâncias.
A intervenção deve ser personalizada e englobar suporte psicopedagógico, intervenção escolar, psicoeducação e treino de competências. Em idade pré-escolar o tratamento de primeira linha inclui treino de competências parentais e intervenções comportamentais/intervenção terapêutica individual. O tratamento farmacológico deve ser utilizado apenas em casos de difícil controlo da agressividade. Em idade escolar o tratamento farmacológico faz parte do tratamento de primeira linha. Durante a intervenção deve se ir reavaliando o diagnóstico e despistando possíveis comorbilidades. Existem escalas de avaliação e provas psicológicas que podem ser úteis para quantificar a gravidade dos sintomas e auxiliar a monitorizar a resposta ao tratamento.
O prognóstico é variável, consoante o tipo de PHDA, a sua gravidade e impacto nos vários contextos, a presença de comorbilidades, a existência de fatores protetores e o tratamento/apoio que a criança/adolescente e a sua família vão tendo ao longo do seu desenvolvimento. Estudos apontam para que adultos com PHDA tenham menor capacidade de lidar com eventos stressantes e maior risco de abandonar a escola, de desemprego, de acidentes rodoviários, de uso indevido de substâncias e maior número de episódios depressivos.
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