“O cancro do testículo, embora seja responsável por uma percentagem muito reduzida de cancros, é o mais comum entre os 15 e 35 anos e a incidência tem vindo a aumentar, embora com taxas elevadas de cura. Muitos destes homens ainda não foram pais, daí que seja fortemente recomendada a preservação de uma amostra de sémen“, indica.
Susana Alves explica que as informações sobre fertilidade para doentes diagnosticados com cancro são essenciais de modo a que o homem possa planear questões relacionadas com a paternidade após a cura. “Tratamentos como quimioterapia ou radioterapia, bem como as cirurgias necessárias após o diagnóstico de cancro do testículo, podem influenciar negativamente a fertilidade, pelo que a preservação de uma amostra de sémen deve ser abordada nas consultas”, refere a diretora do Laboratório de Andrologia da Clínica IVI Lisboa.
“Quando confrontado com um diagnóstico de cancro, o homem sente-se muitas vezes sobrecarregado, tanto pela notícia em si, como pela quantidade de informação ou decisões a tomar. Uma delas é a de ter a possibilidade de decidir ser pai no futuro, que pode parecer secundária diante de uma doença, mas não para o projeto de vida após a recuperação. Ou seja, o sonho da paternidade não pode ficar para segundo plano perante uma notícia tão devastadora como um cancro”, sublinha.
De acordo com Susana Alves, a fertilidade nos homens com cancro do testículo pode ser afetada tanto pela doença em si, como pelas várias abordagens terapêuticas. Quer os danos diretos da cirurgia, como os relacionados com a quimioterapia podem afetar a produção de espermatozoides, uma vez que o epitélio germinativo do testículo é muito sensível aos efeitos da quimioterapia.
A especialista explica ainda que estes efeitos podem ser temporários ou permanentes, dependendo da dose utilizada e, sobretudo, do tipo de quimioterapia. Assim, é recomendado congelar uma ou mais amostras de sémen antes dos tratamentos, com o intuito de preservar o potencial reprodutivo.
O processo da criopreservação do sémen é relativamente simples. Susana Alves refere que esta opção deve fazer parte do planeamento do tratamento oncológico, sendo que, numa primeira consulta, após análise da idade, do prognóstico, da fertilidade prévia, entre outros fatores, deve ser preservada uma primeira amostra de sémen. Esta é submetida a análise para se conhecer em detalhe a qualidade e a capacidade de movimentação dos espermatozoides.
“Se houver tempo, é aconselhável congelar mais uma amostra, com um intervalo de dois a cinco dias, embora em caso de urgência possa ser feito no dia seguinte à recolha da primeira amostra. Após a recuperação do doente, a escolha da técnica de reprodução medicamente assistida vai depender da quantidade e qualidade da amostra disponível”, revela Susana Alves.
A médica acrescenta ainda que não há limitação de tempo na criopreservação (a quase -200º C) e que, uma vez descongelados, apresentam resultados semelhantes aos dos tratamentos de reprodução assistida realizados com amostras frescas.
“A nível psicológico é muito positivo ter um objetivo vital no horizonte como o de tornar-se pai após o cancro. Sem dúvida, ajuda o homem que passa por este tipo de doenças a ter uma perspetiva de futuro com projetos emocionantes para realizar uma vez recuperado”, conclui.
CG
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