De acordo com o último estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em articulação com a Direção-Geral da Saúde, referente a 2019, concluiu-se que 29,6% das crianças, em Portugal, tem excesso de peso e 11,9% apresenta obesidade.

Apesar de na última década Portugal ter conseguido passar do 2.º país europeu com maior prevalência de excesso de peso infantil para o 14.º, os especialistas estão preocupados. “A pandemia contribuiu para que as crianças e os jovens ficassem mais sedentários, sem praticar atividade e exercício físico e sem qualquer controlo no consumo de alimentos”, alerta Júlia Galhardo.

Para a médica, a percentagem de excesso de peso e de obesidade poderá aumentar nos próximos anos também por causa dos problemas psicológicos que despoletaram ou que foram agravados com a pandemia. “Ao HDE chegam cada vez mais jovens com patologia psiquiátrica a pedir ajuda e que precisam de medicação que, por si, poderá aumentar o apetite.”

São vários fatores, entre os genéticos e os ambientais, que devem obrigar a uma aposta maior em medidas preventivas. “A prevenção é a pedra basilar no combate à obesidade infantil”, enfatiza Júlia Galhardo. E essa luta deve começar, como acrescenta, na preconceção. “A carga epigenética é importante, daí que a futura mãe deva adotar uma alimentação saudável ainda antes da gravidez, inclusive para que a criança cresça num ambiente em que é normal ter uma dieta equilibrada.”

Quando não é possível evitar o excesso de peso e a obesidade, a mudança de estilos de vida continua a ser “fundamental” mesmo perante a necessidade de prescrição de medicamentos. Quanto à cirurgia bariátrica, é “muito mais restrita” e apenas pode ser realizada a partir dos 16 anos. Concluindo, a endocrinologista pediátrica defende que, a par de todas as medidas, é preciso combater o estigma. “É uma doença e é assim que tem de ser tratada.”

Texto: Maria João Garcia