No leque das questões de saúde pública a obesidade não é apenas um desafio físico, mas também uma batalha contra estereótipos e preconceitos profundamente enraizados na sociedade. Enquanto celebramos o Dia Mundial da Obesidade é fundamental direcionar o foco, não apenas para as questões médicas, mas também para as implicações sociais e emocionais enfrentadas por todos os que vivem com esta doença.
O preconceito contra pessoas com obesidade é uma realidade pérfida, que se insinua de várias formas na nossa sociedade. Desde piadas inconvenientes até discriminação no acesso a oportunidades de trabalho ou mesmo cuidados de saúde, os impactos do estigma da obesidade são profundos e, muitas vezes, devastadores.
Um dos erros mais comuns é a suposição de que a obesidade é um resultado aritmético da soma de preguiça com gula e falta de determinação. Esta narrativa simplista ignora completamente a complexidade desta situação clínica, que está intimamente dependente de fatores genéticos, hormonais, ambientais, comportamentais e até sociais. Julgar alguém pelo seu peso não é apenas injusto, mas perpetua um ciclo de discriminação que mina a autoestima e a saúde mental de quem é alvo deste preconceito.
O ambiente em que vivemos desempenha um papel significativo no desenvolvimento da obesidade. Em muitas populações de baixo rendimento, o acesso a alimentos frescos e saudáveis é limitado por motivos económicos. As opções alimentares menos nutritivas e saudáveis são de acesso mais prático e económico, aumentando a desigualdade social, que penaliza os grupos mais vulneráveis. Sem resolvermos o problema social e económico da sociedade não seremos bem-sucedidos na luta contra a obesidade.
O preconceito contra a obesidade também tem impactos graves na saúde mental. A vergonha e a insatisfação associadas ao peso corporal podem levar à depressão, ao isolamento social com sedentarismo e até mesmo a compulsões alimentares. Não deixa de ser irónico que o estigma da obesidade acabe por agravar o problema que pretende criticar.
É fundamental reconhecer que a obesidade não define um indivíduo. Por trás de cada número na balança há uma história única, uma jornada de vida cheia de desafios, dificuldades e superações. Como sociedade precisamos de desafiar ativamente esses estereótipos prejudiciais, educando-nos sobre as causas da obesidade e promovendo a compreensão e a promoção de estilos de vida saudáveis. Quando refletirmos sobre o Dia Mundial da Obesidade vamos comprometer-nos a desmistificar os estereótipos associados à doença e perceber que, só através da educação e da empatia coletiva, podemos almejar a uma sociedade mais inclusiva, justa e saudável para todos.
Notícia relacionada
“Quando se constituem CRI de obesidade robustecemos a capacidade de resposta”