Porquê uma recandidatura à OE nos Açores?

Vejo esta recandidatura como uma responsabilidade cívica e profissional para com a Enfermagem açoriana. Sinto que a hora é de continuar aquilo que começámos pelos Açores, pela saúde dos açorianos, pelos nossos enfermeiros. Queremos continuar a desenvolver uma Secção Regional reformista, ambiciosa, com preocupações, que defenda um modelo de crescimento da profissão, assente nas competências, condições laborais e no capital humano, protegendo os enfermeiros e a população.

A Enfermagem açoriana precisa percorrer um caminho de continuidade no seu crescimento, e para isso, é fundamental uma Secção Regional liderante, em nome do superior interesse e que crie as condições para as reformas estruturais necessárias nas diversas áreas de atuação dos enfermeiros. A Enfermagem tem muito mais a ganhar continuando com o princípio de união ganho nos últimos quatro anos e liderada por uma equipa que não se subalterniza na mera expectativa. A Enfermagem açoriana precisa deste projeto que valoriza e sempre soube envolver e potenciar sinergias, contributos e visões dos enfermeiros, e que vê os próximos anos como essenciais numa solidificação das conquistas, e num contínuo crescimento, porque claramente para trás nunca mais.

Este é um projeto que pretende continuar o trabalho que se iniciou em 2020, e que pretende lutar por um futuro que a classe ambiciona e merece, contribuindo para o desenvolvimento de uma Enfermagem de futuro, com ideias mobilizadoras, num caminho de transformação regional, transversal e equitativo a todas as ilhas do arquipélago.

Que balanço faz do atual mandato?

No mandato 2020-2023 assistiu-se a uma enorme transformação na Enfermagem açoriana, com claros ganhos nas diversas dimensões para os enfermeiros açorianos, assim como para a população. Os Enfermeiros nos Açores, hoje, têm voz, deixaram de ter uma qualquer muleta que perpetuava o imobilismo na classe. E isto deve-se a um projeto iniciado em 2020 que, mesmo com dois anos pandémicos onde foram necessárias alterações no planeamento, com um ajuste a toda a linha foi possível apoiar no terreno toda a ação e mesmo assim, cumprir, indo inclusive mais além no programa de atividades, num trabalho exemplar desta equipa que lidero.

Foi claramente um mandato desafiante na sua gestão, e numa reflexão pessoal chego à conclusão de que neste mandato tivemos questões estruturantes externas que nos obrigaram a uma flexibilidade tremenda. Repare-se, passámos por uma pandemia, uma crise sísmica, a mudança de governo e cores políticas, três Secretários Regionais da Saúde, alterações em praticamente todas as instituições públicas de saúde a nível dos conselhos de administração e direções de enfermagem, a construção de um novo plano regional de saúde, entre outras situações, e que claramente foram um desafio constante em nivelar com as reais necessidades dos enfermeiros. Por fim, o balanço é claramente positivo e vejo esta recandidatura como derradeira oportunidade para colocarmos esta mesma questão a sufrágio junto dos enfermeiros, que têm aqui uma possibilidade de, nas urnas, nos avaliarem com o seu voto.

“Defendemos que é necessária uma reestruturação a fundo na interoperabilidade institucional do Sistema Regional de Saúde”

O que gostaria de destacar no trabalho realizado?

Esta é uma pergunta difícil pela dificuldade em destacar o mais significativo, mesmo assim, deixo alguns pontos que deixaram marca na história da Enfermagem regional. Toda a intervenção durante a pandemia, onde por exemplo fizemos a ponte 24h/24h entre os enfermeiros no terreno, as instituições e a tutela; a constituição de uma equipa que participou nas ilhas sem hospital no apoio às equipas locais na vacinação de mais de 15 mil açorianos; todo o trabalho na promoção e desenvolvimento de todas as diligências necessárias no processo de reposicionamentos remuneratórios dos enfermeiros em que fomos nós que desde o primeiro minuto mostrámos que era possível, era necessário, era o justo, e onde sentámos à mesma mesa os vários sindicatos, dinamizando a construção de uma estratégia comum neste assunto.

Visitámos todas as Instituições de Saúde na região, estivemos com centenas de enfermeiros; acima de tudo, houve consequências práticas destas visitas com muitas correções de situações encontradas. Fizemos um levantamento exaustivo das dotações nas diversas equipas e hoje sabemos exatamente quantos somos e onde estamos. Destaco ainda a construção de toda a legislação para a criação do Enfermeiro de Família nos Açores, assim como num projeto que culminou num documento com nove medidas fundamentais a incluir no Plano Regional de Saúde.

Organizámos o primeiro Congresso Regional de Enfermagem dos Açores, onde, pela primeira vez, em todos os painéis existiram enfermeiros dos Açores a mostrar o que de melhor por estas ilhas se faz, na companhia de grandes nomes da enfermagem nacional, num auditório completamente lotado. Trouxemos aos Açores todos os colégios das diversas especialidades de Enfermagem, fomentámos formação específica para os nossos Enfermeiros, entre muitas outras ações.

“Temos um sistema a funcionar numa direção muito centralizada nos cuidados hospitalares, quando deveria ser no sentido inverso”

Quais são os desafios atuais da saúde nos Açores?

Defendemos que é necessária uma reestruturação a fundo na interoperabilidade institucional do Sistema Regional de Saúde em todas as suas vertentes, assim como uma aposta evidente num Plano Regional de Saúde coerente e robusto, com uma aposta clara na prevenção da doença através da promoção da literacia em saúde junto dos açorianos, por exemplo. A aposta nos recursos humanos é outra questão fulcral. Sem os profissionais estaremos cada vez mais isolados nos cuidados, e no caso da Enfermagem, não estamos a formar os enfermeiros em número anual necessário.

A partilha de recursos é fundamental no arquipélago, sendo mais um dos desafios essa organização. Apostar num trabalho de proximidade comunitário, para além de um desenvolvimento nos cuidados oferecidos a nível das instituições sociais. Temos um sistema a funcionar numa direção muito centralizada nos cuidados hospitalares, quando deveria ser no sentido inverso, com uma maior aposta na prevenção.

Que soluções propõem?

Estamos a construir um programa de ação baseado em cinco pilares: formação e o desenvolvimento desta oferta na região; proximidade da ação da Ordem dos Enfermeiros junto destes com a criação de pontes de entendimento com todos os stakeholders da área; promoção do trabalho da Enfermagem regional, nomeadamente investigação e projetos de melhoria contínua e a projeção além fronteira geográfica; dignidade da profissão, nomeadamente no garante das condições do exercício, assim como na defesa pela igualdade e justiça em termos remuneratório, nomeadamente entre os enfermeiros da área social e restantes, e por fim, a segurança dos cuidados e das condições oferecidas aos enfermeiros para exercerem as suas funções. Dentro destes pilares, iremos construir medidas concretas de atuação a apresentar no período pré-eleitoral.

Texto: Maria João Garcia

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