Tem-se discutido, pouco e menos do que seria conveniente fazer, a evolução da mortalidade em Portugal e, realmente o que seria importante – as razões e tendências das principais causas de morte prematura.

Depois da Organização Mundial de Saúde ter decidido confirmar e anunciar o declínio da actividade do SARS-CoV-2, passando a classificá-lo em paridade com outras infecções particulares, como a gripe, é tempo de novas atenções e estudos.

Ainda assim, precisaremos de compreender como será retomada a vida nos sistemas de saúde pressionados como estiveram pela situação vivida entre 2020 e meados de 2022.

Como o povo diz, o tempo tudo cura…

Lembrei-me da hepatite C e do ruído que há anos foi feita para que em Portugal o tratamento fosse uma realidade, alterando uma situação trágica e salvando vidas pela mão do então Ministro da Saúde Paulo Macedo.

E pensei também em como a doença hepática se instalou no top-five do ranking de morte precoce em Portugal! Falava-se de “bomba-relógio” e a expressão ainda hoje pode fazer algum sentido, embora agora pelo facto de ainda termos pessoas infectadas e desconhecendo tal facto e risco.

A evolução natural da doença pode levar a formas graves, como a cirrose, ao fim de 20 ou mais anos após a infecção. E, depois, a probabilidade considerável de evolução para cancro hepático primário, mais 5 a 10 anos volvidos!

Ao invés do que muitos pensam, o período temporal entre as décadas de sessenta e noventa do século passado não esgotou o risco nem o prazo de contágio. Há duas notas que devem ser postas sobre a mesa: uma primeira quanto à investigação do genótipo que nada tem a ver com a origem da contaminação e a outra que se associa à idade do doente no momento da exposição ao contágio, no sentido em que, quanto mais elevada, mais rápida a progressão para a fibrose hepática.

É por isso que importa intensificar e massificar estratégias activas de rastreio. Detectado que seja, a referenciação hospitalar permitirá a sua eliminação! Por que não pensar em testar os indivíduos com alterações significativas das transaminases, por exemplo?

Parece que já nem evocamos a grande vitória em 1991 que foi a aprovação do rastreio da hepatite C nos dadores de sangue… E no entanto, agora que temos terapêuticas altamente eficazes, orais e cómodas, sem toxicidades associadas, esquecemos como foi a ausência de tratamentos ou os primórdios por fármacos injectáveis, várias vezes por semana e com efeitos secundários marcados e taxas de sucesso na ordem dos 5-6%!

E, todavia, parece que ignoramos o tremendo êxito científico que foi a evidência de lograr eliminar sem potencial de risco o primeiro vírus crónico com potencial oncológico severo! Os argumentos são muitos e a identificação, o mais precoce possível, de indivíduos infectados deve constituir o objectivo fundamental de um programa de prevenção nacional.

O papel dos Cuidados Primários é, também aqui, crucial e a atenção deveria voltar-se para a promoção da saúde e para a prevenção. A hepatite C pode passar verdadeiramente à História!

O autor escreve segundo o AAO

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