A demência, um termo que lança uma sombra de medo e incerteza sobre milhões de famílias em todo o mundo, é uma preocupação crescente. A Organização Mundial de Saúde estima que a nível mundial existam 47.5 milhões de pessoas com demência, número que se prevê que triplique em 2050. Portugal é atualmente o 4.º país da OCDE com mais casos por mil habitantes, estimando-se que mais de 200 mil pessoas tenham demência.
A demência pode surgir associada a diversas doenças, sendo a mais conhecida e frequente a doença de Alzheimer. Caracteriza-se por um agravamento progressivo a nível cognitivo e dependência crescente, sendo a evolução variável do ponto de vista individual e da doença. O declínio nas habilidades cognitivas pode levar a desafios no vestir, comer, comunicar e manter a independência geral. É aqui que entra a terapia ocupacional.
O terapeuta ocupacional ajuda a prevenir, minimizar ou resolver problemas que interferem com a capacidade das pessoas para realizarem as atividades do dia a dia. A sua intervenção na demência tem como objetivo maximizar o desempenho e autonomia, prevenir a incapacidade e conservar as aptidões e papéis ocupacionais. Contribui desta forma para uma melhor qualidade de vida da pessoa e do seu familiar/cuidador.
Uma das principais funções do terapeuta ocupacional na intervenção com pessoas com demência é a avaliação e o planeamento personalizado das atividades diárias. Sendo a vivência de cada indivíduo com a demência única, a sua abordagem deve ser adaptada às necessidades e capacidades específicas da pessoa. Através de uma avaliação detalhada, o terapeuta ocupacional identifica pontos fortes e desafios, ajudando a pessoa com demência a recuperar ou manter a sua autonomia e independência nas atividades significativas.
A terapia ocupacional não se restringe ao controlo de sintomas. O seu principal objetivo é melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas com demência. Desta forma, o terapeuta ocupacional trabalha para oferecer um ambiente seguro e de conforto, fazendo as modificações necessárias na casa e nos espaços que a pessoa utiliza no seu dia a dia. Mudanças simples, como instalar corrimãos, remover tapetes ou cabos soltos no chão, rotular objetos de uso diário, ou ter um calendário num local visível de uso frequente, podem fazer uma grande diferença para alguém com demência. Essas adaptações não apenas garantem a segurança, mas contribuem para preservar a sensação de familiaridade e conforto dentro de casa.
Os terapeutas ocupacionais oferecem também apoio necessário aos familiares e cuidadores. Cuidar de um familiar com demência é emocional e fisicamente desgastante, não só pela necessidade constante de atenção, que gera frequentemente uma sensação de sobrecarga, mas também pela insegurança na prestação de cuidados. O terapeuta ocupacional dá apoio aos familiares e cuidadores através do ensino de estratégias para uma melhor comunicação e para promover a autonomia, ajudando também na reorganização de rotinas diárias ao longo das diferentes fases da doença.
Através da sua intervenção, o terapeuta ocupacional contribui para a preservação da dignidade e do sentido de identidade da pessoa com demência. À medida que o mundo enfrenta o envelhecimento da população, e o aumento exponencial de casos de demência, a importância do papel do terapeuta ocupacional deve ser dada a conhecer, não só à comunidade científica, mas também às pessoas com demência, familiares e cuidadores, que podem beneficiar da sua intervenção.
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