Oficialmente iniciado a 1 de junho de 2022, o Projeto Cinderella foi criado e desenvolvido com o objetivo de otimizar a previsão dos resultados das cirurgias reconstrutivas em doentes com cancro da mama. O objetivo desta iniciativa, que recebeu cerca de seis mil euros da Comissão Europeia, é melhorar a satisfação das doentes relativamente à sua imagem corporal após a intervenção cirúrgica e, consequentemente, a sua saúde psicológica.
Maria João Cardoso, coordenadora da Equipa Cirúrgica da Unidade de Mama da Fundação Champalimaud e do Projeto Cinderella desenvolvido nesta Unidade, conta que a “ideia surgiu exatamente da noção de que há uma grande falta de informação estruturada para as doentes propostas para cirurgia e que, muitas vezes, as expectativas relativamente aos resultados são irrealistas, levando à insatisfação”.
A escolha do nome, é de acordo com a cirurgiã, o acrónimo do título de projeto – CINDERELLA PROJECT – Clinical Validation of an AI-based approach to improve the decision making process and outcomes in Breast Cancer patients proposed for locoregional treatment. No entanto, foi escolhido também porque esta personagem é “uma bonita princesa, numa história com final feliz”.
“O Projeto Cinderella pretende ser uma nova forma de abordar as doentes propostas para cirurgia de cancro da mama, não só lhes dando mais informação, mas permitindo também que possam visualizar o resultado da cirurgia que lhes foi recomendada. Esperamos que esta abordagem melhore a aceitação dos resultados e diminuía a insatisfação”, observa.
E desenvolve: “Para podermos mostrar às doentes o possível resultado estético da cirurgia que vão fazer, temos que usar a sua fotografia que será cruzada com a nossa base de dados de imagens e, através de Inteligência Artificial, serão selecionadas as imagens mais parecidas de mulheres que foram submetidas à mesma cirurgia. Se não tivermos resultados semelhantes podemos ainda simulá-los.”
A plataforma tem vindo a ser trabalhada desde 2013. O projeto teve o seu início oficial, tal como já foi referido, no início de junho de 2022, após receber o apoio da Comissão Europeia, que será distribuído durante quatro anos, e inclui parceiros de vários países, cinco centros clínicos: Champalimaud Foundation Breast Unit, San Raffaele University and Research Hospital, Heidelberg University Hospital, Medical University of Gdańsk e Sheba Medical Centre; dois parceiros tecnológicos: CANKADO Service GmbH e INESC TEC; e dois centros académicos: Bocconi University e FCiências.ID.
“O projeto vai incluir um ensaio clínico e, por isso, apenas os centros que integrarem o ensaio poderão participar. Esperamos incluir globalmente 600 doentes. Mas, quantas mais doentes forem incluídas melhor e já existem centros que não têm budget que também querem participar”, observa Maria João Cardoso, referindo que o ensaio termina em 2026.
Texto: Sílvia Malheiro
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