O projeto da Associação Portuguesa Promotora de Saúde e Higiene Oral (APPSHO) para aumentar a capacidade de diagnóstico da saúde oral com recurso a inteligência artificial (IA), é o grande vencedor da quarta edição do Data for Change 2022 (programa que integra a Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE e que conta com o desenvolvimento de projetos por parte do Nova SBE Data Science Knowledge Center).
Com início em 2022 o projeto vencedor (que propõe o desenvolvimento de uma ferramenta de IA, escalável e eficiente, para identificação de crianças e jovens com pior saúde oral) resultou da participação da APPSHO no programa Data for Change que capacitou a Associação em temas de ciência de dados (análise e tratamento de dados, desenvolvimento e implementação de modelos de Machine Learning (ML)).
Na base do projeto esteve a análise de que as cáries dentárias constituem a doença oral mais prevalente a nível mundial, com cerca de 2 mil milhões de casos. Segundo os últimos dados disponíveis, em 2013/2014, cerca de 68% dos jovens portugueses de 18 anos tinham pelo menos uma cárie ativa, apresentando, em média, 2,5 dentes cariados, perdidos ou obturados (índice CPO-D). A percentagem de alunos de 6 e 12 anos com pelo menos uma cárie ativa foi de 45% e 47%, respetivamente.
Em 2019, estima-se que os custos diretos com saúde oral em Portugal se tenham situado na ordem dos 75,65 euros per capita. Uma parte desses custos é coberta por programas financiados pelo Estado, como o Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO), designadamente através da emissão de cheques-dentista. De acordo com informação disponibilizada pelo Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 2022, a percentagem de cheques-dentista utilizados em relação ao total de cheques-dentista emitidos para crianças e jovens até aos 18 anos foi de 64%.
Antes do projeto, a APPSHO avaliou o estado de saúde oral dos estudantes através da realização de rastreios orais efetuados por profissionais de saúde nas escolas. Embora forneça informações precisas e completas sobre o estado de saúde oral dos estudantes, esta é uma opção exigente em termos do tempo, logística e recursos humanos, o que limita a escalabilidade desta opção. Além disso, não associa o estado de saúde oral dos estudantes aos comportamentos que possam estar a contribuir para o problema.
Para dar resposta a este desafio, o projeto procurou identificar os alunos com pior saúde oral através de outra fonte de dados: questionários sobre os comportamentos, crenças e atitudes face à saúde oral, preenchidos pelos próprios alunos.
Trabalhando em parceria com a APPSHO, a equipa da NOVA SBE Data Science Knowledge Center desenvolveu um modelo de ML, através da utilização de dados históricos anonimizados, que relaciona as respostas dos alunos nos questionários e o seu estado de saúde oral, identificando, assim, os padrões comportamentais e de atitude mais frequentemente associados a uma pior saúde oral.
Este processo possibilita não só a identificação de alunos com maior potencial de necessidades de cuidados extra de saúde oral (que podem inclusivamente ser priorizados no encaminhamento para consultas de medicina dentária, através do PNPSO) como também sugerir mudanças de hábitos mais prejudiciais à saúde oral de cada aluno e ainda desenvolver estratégias para potenciar a utilização dos cheques-dentista por esta população.
A utilização destes questionários permite a criação de uma solução acessível e escalável, que pode ser utilizada em qualquer escola do país, destacando-se, neste sentido, o seu potencial de integração com o PNPSO e de reforço para a utilização efetiva dos cheques-dentista emitidos.
O desenvolvimento do projeto contou com o apoio de um conselho consultivo, que integrou profissionais com reconhecida experiência e conhecimento do setor, sendo de destacar a colaboração de um perito em economia, um investigador um representante de um núcleo escolar e representantes de municipais.
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